Na
frente de quatro chefes de Estado, o presidente do Brasil disse algo do qual
recuou 24 horas depois. O fato mostra que não houve assessor, ministro,
qualquer pessoa no gabinete ou na estrutura do Palácio que o alertasse de que
ele não deveria ameaçar revelar uma lista de países supostamente cúmplices do
desmatamento, porque não teria capacidade de sustentar o que dizia. O episódio
mostra que o país não tem apenas um presidente irresponsável, tem uma
presidência irresponsável.
Em
qualquer governo há uma estrutura em torno do chefe de Estado que o alerta,
informa e assessora. O Brasil de Bolsonaro não tem isso. Ou é falta de
qualificação de quem está em torno dele ou é falta de coragem de enfrentar um
presidente temperamental. Não se sabe se aquela estultice estava escrita no
texto que ele lia ou se foi um improviso inconsequente. Mas o fato é que dois anos
depois de assumir a presidência ele continua desrespeitando o papel de
representante do país nos seus encontros internacionais.
Os
três fatos narrados acima são crimes. Foram vários outros. A Câmara optou, em
seguidos mandatos, por deixar ele cometer esses crimes e jamais o puniu. A
deputada Maria do Rosário o processou, mas a Justiça foi tardia e falha. Foi
assim que Bolsonaro chegou à presidência, ficando impune de crimes de ameaça de
morte, defesa da tortura, atentado à democracia, homofobia, ataques às mulheres
e racismo. Ele levou esse estilo para a presidência. Mente e faz bravatas
diante de seus apoiadores no cercadinho do Alvorada, mente e faz bravatas
diante de chefes de Estado.
Não
há qualquer anteparo. Nada que proteja o Brasil dos absurdos do presidente da
República. Esse caso deixa nua a própria presidência, dado que ninguém o
impediu de falar o que falou. O que disse mostra que ele é um desinformado,
como já escrevi aqui. Mais de 80% do que o Brasil extrai de madeira da Amazônia
é vendido para o próprio mercado brasileiro, segundo estudo do Imazon. Os
empresários do setor também confirmaram isso e disseram que atualmente não
chega a 15% o que é exportado. Países não importam, empresas, sim. E se sabemos
quem compra então sabemos quem vende, como lembrou uma servidora do Ibama num
telefonema para a CBN. Empresas que exportam legalmente, que cumprem as leis do
país serão punidas agora com o fechamento do mercado para o Brasil. É
gravíssimo insinuar que existe em poder da presidência brasileira uma lista de
países receptadores de crimes ambientais.
Há
erros seriais na declaração de Bolsonaro no Brics. E isso para ficar só num
pequeno trecho do discurso cheio de equívocos que leu. A política ambiental é
um atentado à economia. Diariamente o presidente dá razões para que se fechem
mercados, que não se confirmem acordos, que o Brasil seja isolado comercial e
economicamente. As empresas, os bancos, os fundos, o agronegócio exportador,
todos estão alertando sobre isso. Mas o ministro da Economia quando fala sobre
a questão ambiental repete a visão calamitosa do presidente da República.
Bolsonaro comete essas barbaridades e a estrutura da presidência não o impede, o ministro das Relações exteriores o estimula, o ministro da Economia confirma, o ministro da Justiça senta-se ao lado dele, com a Polícia Federal, para tentar, depois do fato, consertar o que não tem conserto. Foi um caso exemplar de desgoverno. Esta administração dá provas diárias de que é um perigo para o país em todos os sentidos, na gestão interna e nas relações internacionais. Uma presidência totalmente irresponsável.
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