Ao menos 12 governadores que não tentarão se reeleger no ano que vem enfrentam dificuldades para manter unida sua base atual em torno de um candidato; polarização entre Bolsonaro e Lula é pano de fundo da maioria das fissuras locais
Bernardo Mello / O Globo
RIO — Sob influência do cenário nacional,
governadores de 12 estados que não podem ou não pretendem ser candidatos à reeleição
têm dificuldades para aglutinar sua base em um nome de consenso à sucessão. A
polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) é o pano de fundo da maioria dessas fissuras locais, com
pré-candidatos buscando assegurar o apoio de padrinhos nacionais para tomar a
dianteira no cenário estadual.
Entre os governadores que defendem uma
“terceira via” na eleição presidencial, a preocupação é que uma eventual
insatisfação com a montagem de chapas estaduais leve partidos da base a
esvaziarem seu palanque para negociar apoios a Bolsonaro ou Lula. Em alguns
casos, a migração do vice para o partido do chefe do Executivo surgiu como
alternativa para pacificar a base. Em outros estados, desavenças entre o
titular e o vice-governador tendem a fragmentar o grupo da situação. Há casos
ainda em que governantes cogitam cumprir o mandato até o fim, abrindo mão de
disputar outro cargo em 2022, para abrir espaços a aliados.
Críticas a Doria
Embora estejam aptos à recondução, os
governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite,
ambos do PSDB, têm manifestado interesse em disputar a Presidência e descartam
concorrer novamente ao Executivo estadual. A convite de Doria, seu vice,
Rodrigo Garcia, trocou o DEM pelo PSDB. Aliados de Leite costuram uma saída
semelhante para o vice gaúcho, Ranolfo Vieira Jr., que deixou o PTB após romper
publicamente com o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente da legenda, e
também tem convites de MDB e Podemos.
— Fizemos um convite ao Ranolfo para que ele concorra à sucessão pelo PSDB. É um candidato natural ao governo, em qualquer partido, por representar a continuidade da atual gestão — afirma o deputado federal Lucas Redecker, presidente do PSDB gaúcho e entusiasta da candidatura presidencial de Leite.
Outro possível candidato à sucessão de
Leite é o deputado federal Alceu Moreira (MDB), cujo partido ampliou a presença
no secretariado estadual neste ano em paralelo a um cabo de guerra interno —
parte dos emedebistas gaúchos defende uma posição independente ao governador.
Para conciliar espaços, o PSDB vem deixando em aberto a vaga na chapa ao
Senado, que pode ser ocupada por um partido aliado. O PP, que fez parte da
coligação de Leite em 2018 e integra a base na assembleia local, deve se
afastar do grupo nas próximas eleições para lançar como candidato o senador
Luis Carlos Heinze, aliado de Bolsonaro.
No caso de Doria, a filiação de Garcia ao
PSDB foi planejada para evitar que setores tucanos lançassem o nome de Geraldo
Alckmin ao governo. A cúpula do DEM criticou o movimento de Doria e abriu
conversas com Alckmin nos bastidores, mas há possibilidade de manter o apoio à
candidatura Garcia mesmo em outro partido.
Dissidências no Nordeste
Na região Nordeste, que tem oito
governadores em fim de segundo mandato, todos enfrentam o risco de dissidências
na base. No Maranhão, por exemplo, o governador Flávio Dino (PCdoB) se divide
entre um apoio a seu vice, Carlos Brandão (PSDB), ou ao senador Weverton da
Rocha (PDT). Ambos têm se colocado como pré-candidatos ao governo, ameaçando
reeditar o racha da eleição à prefeitura de São Luís em 2020, quando o grupo de
Weverton apoiou a vitória do oposicionista Eduardo Braide (Podemos) no segundo
turno contra Duarte Jr (Republicanos), que era apoiado por Brandão.
Embora seja aliado de Ciro Gomes,
presidenciável do PDT, Weverton se reuniu no início do mês com Lula em Brasília
e abriu diálogo com o petista, cuja candidatura em 2022 é apoiada por Dino.
Outro elemento que movimenta as costuras à sucessão é a possível filiação de
Dino ao PSB, que pretende lançá-lo como candidato ao Senado. Nesta hipótese,
Brandão assumiria o governo no início de 2022 abrindo palanque a um
presidenciável do PSDB, enquanto Dino consolidaria uma frente de esquerda.
— O convite ao governador está feito, creio que ele está discutindo a transição. O PSB vai defender uma aliança na esquerda — afirmou o deputado Bira do Pindaré (PSB-MA).
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