O
senador pelo PDT e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque tem pautado em sua
vida pública o debate sobre a educação, o combate ao analfabetismo e a má
qualidade da educação nas escolas brasileiras. Em entrevista ao jornal Zero
Hora, em 2015, assim se expressou: “Se a gente compara a educação brasileira de
hoje com a de 30 anos atrás, melhorou. Se compara com o que se exige hoje da
educação, nós pioramos. É como se nós avançássemos ficando para trás, porque as
exigências educacionais crescem mais rapidamente do que a educação brasileira
melhora. Há 30 anos, nem tinha escola para 30% das crianças. Agora, elas estão
na escola, mas em escolas muito deficientes”.
Essa discussão vem atravessando décadas, quase um século, mas não tem conseguido tocar os sentimentos de quem governa, nem da sociedade, que têm a responsabilidade constitucional de prover a educação pública obrigatória, gratuita e de boa qualidade para todos.
O
Inep, órgão responsável pelo planejamento e a operacionalização das avaliações
OCDE no país, vem apresentando os resultados referentes ao Brasil desde o
início. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos da OCDE, Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (PISA), examina o que os alunos
sabem em leitura, matemática e ciências,
Em
2018 aconteceu a última avaliação, quando o Brasil apresentou um pequeno avanço
em relação a 2015.
Realizado
a cada três anos, o PISA tem o objetivo de mensurar até que ponto os jovens de
15 anos adquiriram conhecimentos e habilidades essenciais para a vida social e
econômica. Em 2018, 79 países e 600 mil estudantes participaram do teste, que
ocorre desde 2000.
Os
resultados do Brasil: Em
leitura (57º lugar), atingiu 413 pontos – seis a mais que
em 2015. A média da OCDE é de 487. Em
matemática (70º), o país subiu para 384 – sete pontos a
mais que o resultado anterior. Na OCDE, a média em 2018 foi de 489. Em ciências (64º), o
indicador brasileiro foi de 404 pontos – três a mais que em 2015. A média da
OCDE é de 489. (Fonte PISA/INEP)
Com
relação ao IDEB, avaliação realizada pelo INEP/MEC, em 2018 tivemos o seguinte
resultado, numa escala de 0 a 10: Ensino Fundamental anos iniciais (1º ao 5º
ano) 5,8, ultrapassando a meta que era 5,5; anos finais (6° ao 9º ano) 4,7,
não atingindo a meta esperada, 5; Ensino
Médio “etapa mais crítica, o índice avançou 0,1 ponto,
após ficar estagnado por três divulgações seguidas, chegando a 3,8. A meta para
2017 era 4,7”. (Agencia Brasil)
Há
duas semanas foi divulgado novo estudo pela OCDE indicando que 67% dos
estudantes de 15 anos do Brasil – quase sete a cada dez – não conseguem
diferenciar fatos de opiniões quando fazem leitura de textos.
A
situação expressada em todos os resultados aponta cada vez mais para a
necessidade do desenvolvimento do pensamento crítico a ser desenvolvido através
das atividades escolares. As nossas escolas, via de regra, estão acostumadas a
trabalhar com material elaborado que visam o reconhecimento de respostas certas
e erradas, diante de um conteúdo apresentado.
Sem
que haja o entendimento de que é necessário produzir e analisar textos,
compreender a lógica do raciocínio de cada criança ou adolescente, estabelecer
o contraditório, é muito difícil romper com os baixos níveis de aprendizagem
que vem sendo registrado ao longo dos anos.
O
último estudo apresentado pela OCDE consegue inferir que o risco é de que a
desinformação leve à “polarização política, diminuição da confiança nas
instituições públicas e falta de credibilidade na democracia”.
Neste
caso, pode ser até compreensível o que vem acontecendo no país, considerando o
celeiro de ideias obscurantistas que se proliferam no país, a cada instante. A
apatia que parece se abater sobre os brasileiros, aliada ao incipiente
pensamento crítico diante da política má conduzida, e a pandemia com
enfrentamento desastroso por parte do governo, não tem possibilitado, sobretudo
aos jovens, uma manifestação mais criteriosa diante da invasão de informações
deformadas que surgem no formato de fake news, comandada por robôs.
Outros
estudos realizados indicam ainda que alunos dos últimos anos do Ensino
Fundamental – durante o tempo de pandemia em que escolas foram fechadas e
apenas 30% dos alunos tiveram acesso às aulas virtuais – podem ter regredido a
possibilidade de aprendizagem em média até quatro anos em leitura e língua
portuguesa e em matemática, média equivalente a três anos de escolaridade.
A
pandemia evidenciou, sem nenhum escrúpulo, a situação de desigualdade por que
passa o país: economia com índices baixos de crescimento, desemprego em massa,
as dificuldades por que passa o sistema de saúde SUS, o desmonte das políticas
públicas básicas, o aumento da criminalidade com a banalização da vida.
No
entanto, com relação à educação, é necessário que se trabalhe as reformas necessárias,
porque estamos falando atualmente de 47 milhões de crianças e adolescentes que
foram matriculadas no ensino básico em 2020, prejudicadas no seu
desenvolvimento pelo descaso histórico com uma educação de qualidade e,
atualmente, pelo fechamento das escolas.
No
ano de 2020 foram registradas 47,3
milhões de matrículas nas 179,5 mil escolas de educação
básica do país. A rede
municipal detém 48,4% das matrículas na educação básica.
A rede estadual,
responsável por 32,1%
das matrículas em 2020. A rede privada obtém 18,6% e a federal tem uma
participação inferior a 1% do
total de matrículas. (Censo Escolar/MEC)
O
poder público, através dos seus gestores, precisam tomar atitudes para além dos
discursos, dos projetos e da legislação vigente. E a sociedade não pode mais
aceitar que escolas não tenham as condições necessárias, nem prescindam de bons
professores, metodologias e tecnologias modernas que possibilitem a
aprendizagem de todos os alunos.
É
com ensino de qualidade que se constrói a cidadania e a escola, como principal
instituição da educação formal, é um ambiente social no qual as crianças
vivenciam suas primeiras relações com seus semelhantes e aprendem a conviver em sociedade.
Não
haverá equidade e justiça no Brasil enquanto não houver escola pública onde as
crianças possam aprender desenvolvendo o seu pensamento, assim como não teremos
um crescimento da economia sem que crianças tenham uma boa aprendizagem, a
partir do atendimento em creches.
É
malhar em ferro frio…
Hoje,
mais de 448 mil mortos pelo vírus e por irresponsabilidade.
*Mirtes Cordeiro é pedagoga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário