O Globo
Autoridades do atual governo não tomaram
providências contra os atos antidemocráticos, com a conivência de Bolsonaro,
que, pelo silêncio, os estimulou
Desde que Lula venceu, o país acompanhou as
manifestações contestando as eleições, seja alegando fraude, seja incitando o
golpe militar, pois o vencedor seria criminoso. O Poder Judiciário se tornou
alvo das massas, pois ocupou no governo Bolsonaro a posição de contraponto a
seus imperativos ditatoriais. Enfim, a democracia foi atacada pelos insurgentes
financiados por empresários pró-Bolsonaro, provocando perplexidade nos demais.
Durante esse tempo, uma pergunta se
impunha: onde está o Estado brasileiro? Isso porque defender a intervenção
militar e impedir o direito de ir e vir dos cidadãos não são questões de
opinião, mas palavras de ordem antidemocráticas. Contudo a liberdade de opinião
se sustentou no argumento de que, se não existia destruição de bens públicos
nas manifestações, não existia violência contra a democracia.
Esta foi a opinião de André Mendonça, ministro do Supremo e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, que o indicou para a Suprema Corte por ser “terrivelmente evangélico”. Quando ministro da Justiça começou a listar como subversivos os críticos do governo Bolsonaro para persegui-los, assim como a reavivar a Lei de Segurança Nacional da ditadura militar. Porém nada podemos esperar de um ministro-jurista que bateu continência para Bolsonaro quando foi empossado, assumindo a posição de servidão voluntária da caserna do presidente.
As autoridades do atual governo não tomaram
providências contra os atos antidemocráticos, com a conivência de Bolsonaro,
que, pelo silêncio, os estimulou, esperando que a população por ele armada
pudesse realizar a guerra civil e incitar os militares na aventura golpista. A
Polícia Federal e o Ministério Público não agiram segundo as regras
constitucionais, pois têm o rabo preso com o governo Bolsonaro, que já
interveio na autonomia dessas instituições de Estado. O mesmo ocorreu com a
Polícia Militar. Somente Alexandre de Moraes ameaçou os insurgentes, avisando
que nada ficaria impune.
Os acontecimentos graves ocorridos em
Brasília no dia 12 de dezembro, não por acaso dia da diplomação de Lula,
mostraram como os alicerces do Estado foram subvertidos. Carros e ônibus foram
queimados, a sede da Polícia Federal foi assediada pelos revoltosos, enquanto a
Polícia Militar assistia ao circo de horrores como um espetáculo pirotécnico, e
ninguém foi punido por tais atos. Tudo culminou com a tentativa de realização
de um ato terrorista, felizmente impedido, na posse de Lula, nova versão do
Riocentro. Porém, entre a palavra e o ato do ministro do Supremo, existe o
abismo: a agonia do governo Bolsonaro, na expectativa milagrosa de que as
Forças Armadas possam realizar o golpe. Por isso Bolsonaro veste a camiseta de
Zelensky nas suas lives, como se estivesse num bunker esperando dar o golpe de
misericórdia na democracia. É isso que espera o presidente no seu fim indigno,
apesar de, como mostram seus últimos choros, a ficha da derrota ter caído, na
versão tropical da ópera bufa do Capitólio americano.
*Joel Birman é psicanalista e professor da
UFRJ
3 comentários:
Caso de internação.
Pspuda no aguardo.
Viva a democracia!
Porco comunista
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