O Estado de S. Paulo
Lula voltou dos EUA de mãos abanando e chegará da China de malas cheias
O encontro do presidente Lula hoje com o
chinês Xi Jinping joga luzes no quanto os Estados Unidos estão perdendo espaço
para a China, que é o maior parceiro comercial não só do Brasil, mas de mais de
130 países, caminha a passos largos para ser a principal economia e avança numa
seara que nunca foi seu forte: a política. Com a liderança na economia e na
política em xeque, os EUA mantêm um trunfo, que não é pouco: o poder bélico.
“O contraste será tremendo”, avalia o
diplomata Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington, sobre as viagens de Lula
aos EUA e à China. Com Joe Biden, Lula chegou e saiu de mãos abanando, sem
sequer um valor razoável para o Fundo Amazônia. Com Xi Jinping, levou e vai
trazer malas cheias de acordos e intenções.
O saldo esperado é de duas dezenas de acordos nas mais variadas áreas, de ambiente a infraestrutura, agricultura a carro elétrico, satélites a aviões da Embraer. E a foto de Lula com Xi Jinping vai rodar o mundo. Lula leva o Brasil de volta à arena internacional, Xi Jinping expõe o raio de ação da China na América Latina, Oriente Médio, África, Europa e a própria Ásia (vide Índia).
Nos EUA, republicanos e democratas
continuam olhando o mundo sob a ótica da velha Guerra Fria, tratando a Rússia
como inimiga e a China como adversária, inclusive na Estratégia Nacional de
Segurança, de outubro de 2022. Sua política externa atira para todo lado e
despreza a América Latina, que já foi “quintal dos EUA”.
Qual a estratégia para a região? Que tipo
de apoio Washington dá à profunda crise da Argentina? Não há estratégia, não há
apoio, só há sanções para Venezuela, Cuba e Nicarágua, o que não leva a nada.
Enquanto isso, a China avança, ganha terreno, olha bem longe.
O Brasil está como a França, segundo
Barbosa. Lula se diz neutro na guerra da Ucrânia, mas está cada vez mais
próximo da Rússia, e Macron é claramente pró-Ucrânia, mas, apesar dessas
divergências, os dois países têm posição semelhante numa outra guerra: EUA e
China. Continuam parceiros tradicionais dos EUA, mas cada vez mais próximos da
China. Prevalecem os “interesses internos”.
Em Xangai, Lula visitou fábrica da Huawei,
encontrou-se com o secretário-geral do Partido Comunista e jantou com a cúpula
partidária. Ao dar posse a Dilma Rousseff no banco dos Brics, condenou
veementemente o uso do dólar como moeda mundial. Agora, é esperar os próximos
recados aos EUA nas duas reuniões com Xi Jinping.
Lula volta domingo, e o chanceler da
Rússia, Serguei Lavrov, chega no dia seguinte a Brasília. Coincidência?
Certamente, o governo de Biden acha que não...
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