sexta-feira, 14 de abril de 2023

José Anibal* - Cem dias e uma noite

OrbisNews

Escrevo após cem dias e uma noite da posse de Lula. Menciono alguns destaques nas mídias de hoje: “Forte entrada de dólares dá sustentação para o real”. 12,5 bi de dólares no primeiro trimestre de 2023, 50% a mais do que em todo o ano de 2022. A bolsa subiu 4% e dólar caiu para cinco reais. IPCA de 0,71 % desacelera após doze meses e cai para 4,65 % ao ano. Sinal pequeno mas indicador de redução da inflação. Ao mesmo tempo FMI reduz para 0.9 % expansão da economia brasileira no primeiro ano do governo Lula. Imagino quais serão os destaques de amanhã. E se o FMI estiver certo, a tendência seria piorar o que começou a dar sinais de que pode e deve melhorar.

O fato é que o governo está começando. É precipitado fazer projeções para 4 anos. O Presidente Lula já deixou claro que quer botar o pobre no orçamento e o rico na arrecadação. Bolsa família com mais recursos, retomada do minha casa minha vida, mais médicos e o propósito de fazer com que todos os brasileiros tenham ao menos três refeições diárias. Isso foi pouco mencionado no registro dos cem dias.

As análises econômicas, na maior parte, questionam, cobram resultados, alertam para possíveis desastres. Além de praticamente interditarem o debate sobre taxas de juros. Alguns tem o cuidado de acrescentar que empresas estão quebrando porque não há quem suporte as taxas de juros e serviços bancários do Brasil, as mais altas do mundo. Mas isso, dizem eles, vai depender do tal arcabouço fiscal que até reconhecem que está bem construído. O arcabouço, em síntese, é o governo gastar dentro das receitas e zerar o déficit público em 2026, mantendo margem para o investimento.

70/80 milhões de brasileiros sobrevivem na pobreza, 30 milhões deles na miséria e total insegurança alimentar. Governo está certo em dar prioridade a eles. Também aos indígenas que passaram anos abandonados à própria sorte, como os yanomamis. Isso e o combate ao racismo, aos preconceitos e as violências de toda natureza, mais a defesa dos direitos humanos, passaram a ser políticas públicas ativas. Meio ambiente, sustentabilidade, combate às queimadas e às atividades ilegais e criminosas do garimpo e do tráfico na Amazônia, ainda aguardam uma ação mais abrangente e de recuperação dos órgãos federais com a consequente ação de resultados. O que é urgente! O Brasil tem na preservação da Amazônia um ativo fundamental para o desenvolvimento sustentável, capaz de atrair grandes investimentos daqui e do exterior, contribuindo fortemente para a reinserção do país na economia mundial e com total afirmação da soberania nacional na região.

A democracia, ferozmente agredida pelos golpistas que destruíram parte das sedes dos três poderes em 8 de janeiro, saiu fortalecida do violento episódio. Centenas de traidores - lembrar Ulisses Guimarães, traidor da Constituição é traidor da pátria – foram presos, estão sendo responsabilizados e certamente serão punidos. Eles e seus instigadores e financiadores. A democracia não pode conceder aos que entendem que liberdade é poder conspirar contra ela e destruí-la. A liberdade que defendem é o retrocesso civilizatório, na fronteira com a barbárie. O governo agiu de forma certeira e o repúdio aos traidores foi amplamente majoritário. Os três poderes agiram de forma coesa. Os brasileiros respiraram aliviados. Os militares reafirmaram seu inarredável compromisso com a Constituição e, aqueles poucos entre eles envolvidos no golpe, estão sob investigação. Configurada cumplicidades e participação, serão punidos.

Ao Congresso Nacional cabe agora um compromisso único com os brasileiros que os elegeram. Discutir, modificar e, sobretudo, votar matérias cruciais. É necessário agir com grandeza, que é o oposto de perder dias sobre a formação de comissões mistas para analisar projetos. Cumpra-se o que está na Constituição sobre esta matéria. Vamos ao prato principal. Temos, na preliminar, duas reformas emergentes: a tributária e a administrativa, mais projetos urgentes. Ao voto. A fragmentação partidária tem que ser vencida pelos anseios e interesses dos eleitores, especialmente dos 70/80 milhões de brasileiros que vivem na penúria cada vez mais exposta, cruel e visível. Eles esperam crescimento, emprego, uma vida melhor. Eles não tem lobbies, contam com o voto que elegeu deputados e senadores. Estão mais informados, tem seus próprios diagnósticos, esperam por ação!

*Economista, Senador Suplente, já foi Deputado Federal (PSDB-SP)

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