Folha de S. Paulo
Popularidade do presidente caiu em faixas
intermediárias de renda no segundo ano de governo
Nas primeiras reuniões do mandato, Lula conversou
com ministros sobre um tema que havia se tornado sua obsessão: a classe média.
O presidente dizia que era preciso elaborar propostas para um segmento
que parecia negligenciado pelos petistas. Antes de completar 100
dias de governo, ele declarou que pretendia resgatar "o poder aquisitivo
da classe média brasileira".
O plano tinha como pressuposto o resultado rápido que o governo esperava colher na população de baixa renda. Pela projeção, a retomada de políticas direcionadas aos mais pobres daria à popularidade de Lula as fundações para avançar para a classe média, um segmento que tem cultivado o antipetismo nos últimos anos.
O desafio criado por Lula ficou quase todo
para a segunda metade do mandato. Até aqui, a popularidade do presidente na
baixa renda se manteve praticamente estável. O governo
fechou 2024 com um índice satisfatório de 44% de avaliação
positiva entre brasileiros que ganham até dois salários mínimos. Nos degraus
seguintes, o presidente tropeçou.
Ao longo do ano, Lula perdeu popularidade em
dois grupos que podem ser encaixados na "classe média" da desigual
pirâmide de renda brasileira. Entre eleitores que ganham de dois a cinco
salários mínimos, a avaliação positiva caiu de 32% para 26%, e a negativa
passou de 35% para 42%. Na faixa de cinco a dez salários, o índice positivo foi
de 36% para 25%, e o negativo subiu de 38% para 50%.
Os números mostram como o avanço da proposta
de ampliar a
faixa de isenção do imposto de
renda para R$ 5.000 se tornou essencial para Lula. O governo
decidiu levar o tema para a ribalta como um chamariz, principalmente para
aquele primeiro grupo da classe média. O presidente topou, inclusive, pagar o
alto preço da jogada, com o aumento das desconfianças em relação ao pacote
fiscal aprovado no Congresso.
A distância crescente entre os sentimentos da
população mais pobre e das faixas médias de renda representa um problema para
Lula. Se a base petista estiver mais concentrada no primeiro segmento, que
representa quase metade do eleitorado brasileiro, o grupo do presidente pode
ter dificuldades para repetir uma maioria nas urnas em 2026.
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