sábado, 13 de setembro de 2008

De fatos e argumentos


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Ouvi desse sábio chamado José Mindlin uma frase que define à perfeição uma fatia da humanidade, em especial na intelectualidade: "Para muitos, contra argumentos não há fatos".

Aplica-se agora a um punhado enorme de economistas, todos os que previam, até anteontem, que o crescimento da economia brasileira se desaceleraria em 2008, na comparação com o crescimento de 5,4% de 2007. Até o governo havia comprado esse tipo de análise. Só agora, depois de divulgado o PIB do segundo semestre e quando o terceiro trimestre já está chegando ao fim, é que o ministro Guido Mantega elevou de 5% para 5,5% a previsão de crescimento.

O que me assusta é que, um mês e uma semana antes de Mantega calibrar sua previsão, eu, que não entendo nada de economia, já havia escrito neste espaço, exatamente a 3 de agosto:

"É difícil entender o relativo pessimismo da previsão [de desaceleração de crescimento], quando vários fatores reais (e não previsões) levam a supor que daria para repetir, basicamente, o resultado de 2007. A saber: há segurança quanto ao emprego e, portanto, com a renda; há confiança em tomar créditos. Foram esses dois fatores (renda e crédito) que ajudaram muitíssimo no crescimento de 2007".

Se não tivesse um agudíssimo senso de autocrítica, poderia me achar um gênio da raça. Nada disso.

Apenas faço parte daquele grupo (minoritário?) para os quais contra fatos não há argumentos. Os fatos que citei no texto relembrado não foram descobertos por mim em um notável esforço de reportagem. Estavam disponíveis em todos os jornais da praça, na internet, até mesmo na TV, mais econômica ao lidar com esses assuntos.

Como é possível que economistas, consultorias, até os economistas do governo, como Mantega, se animem a chutar previsões sem olhar para os fatos?

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