sábado, 13 de setembro de 2008

Lula e a Seleção na campanha de 2014


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


O festival de gastança promovido pelo governo, que esbanja dinheiro como milionário doidivanas, a euforia destrambelhada que é a marca do comportamento do presidente Lula nos últimos meses sinaliza sua cega confiança de quem já resolveu todos os problemas do país e vislumbra o caminho florido futuro já traçado e nada pode alterá-lo.

A autoconfiança em dose máxima parece sem limites. Nos mais recentes lances na roleta viciada que obedece ao comando do dono da bolinha mágica, o presidente desdenha a insossa campanha para a eleição de prefeitos e vereadores que desliga milhões de aparelhos de TV no soporífero horário de propaganda eleitoral e, com a visão de lince, arrumou o Palácio do Planalto para hospedar a ministra-candidata Dilma Rousseff em 1º de janeiro de 2015.

Não se pode alegar que esteja jogando com cartas de baralho de cartomante. São outros os seus trunfos. O PT, por exemplo, não oferece o menor risco de desobediência. É exemplar na sua gratidão à solidariedade presidencial nas aperturas de escândalos, como do mensalão, para fechar as adesões que garantem a folgada maioria parlamentar na Câmara e do caixa dois que financiou a eleição de companheiros que ainda não conheciam a senha que abre o cofre da viúva. E, no embalo da virada do mandato da reeleição, parece que os petistas ganham todos os prêmios da Mega-Sena com a distribuição de empregos, sinecuras, nomeações para cargos de confiança que dispensam concurso e demais afagos em moeda sonante.

A ministra chefe da Casa Civil não é apresentada como simples candidata. Mas, como a sucessora carimbada pelo presidente e aceita pelo PT com a adesão dos pretendentes, sem exceção, do ministro Tarso Genro, da Justiça, ao ministro Nelson Jobim, da Defesa, em coro de comovente unanimidade.

Na descontração das viagens no Aerolula, brinca com a ministra com a frase brejeira de que "a bichinha está gostando".

Causa arrepios o desatino de novo-rico que vira as costas para a queda das bolsas do mundo e o risco da desaceleração da economia global e a cada dia afaga o eleitor com novo número do repertório do lançamento de projetos fantásticos.

O ministro Mangabeira Unger, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, na hábil pirueta em que inventou o que fazer num posto honorífico, apresentou a Lula, numa "iniciativa sem precedentes", a proposta de qualificação abrangente das Forças Armadas, por meio do vínculo indissolúvel entre o desenvolvimento do país e a Defesa. Custará uma fábula, se sair do papel.

O Orçamento para 2009, pela proposta do governo, geme com o gasto de pessoal de 4,8% do PIB, a bagatela de R$ 119,1 bi e mais R$ 71,3 bi para as obras do PAC, o trunfo para a eleição da ministra Dilma.

Um exagero sem necessidade. Pois a debilidade da oposição sem o candidato natural, com três favoritos pendurados nos resultados das urnas de 5 de outubro, não constitui ameaça de tirar o sono de Lula.

Com a maré a favor, até erros viram acertos nas cambalhotas do imprevisto. Lula foi muito e justamente criticado nas duras reprimendas à Seleção de Dunga na derrota contra a Argentina, quando mais uma vez confessou o seu encanto pelo brilhante estilo de Messi. Não passou recibo no desabafo de Dunga depois dos três a zero na vitória contra o Chile, quando o futebol brasileiro dos bons tempos de craques que vestiam a camisa de clubes brasileiros, como Garrincha, Nilton Santos, Pelé, Gilmar, Belini, Gérson, Jairzinho, Tostão, Rivelino, Félix, Clodoaldo, Piazza, Paulo César Lima, Everaldo, Carlos Alberto, Brito – para ficar na super-seleção do tricampeonato do mundo, no México, a meu ver a mais perfeita máquina de jogar futebol de todos os tempos – eram unanimidade internacional, parecia renascer das cinzas da nossa subalterna posição de fornecedor de craques para a Europa, com sobras para a Ásia, a África e outros mercados ascendentes.

Mãos à palmatória uma vez mais. O peladeiro do tempo de torneiro mecânico em São Bernardo do Campo estava certo. A atuação da Seleção da Era Dunga, no zero a zero da impotência contra a bisonha Seleção da Bolívia, com o Engenhão com mais espaços vazios do que torcedor, deu razão ao presidente na denúncia amarga como limão verde da decadência do futebol brasileiro exportador de craques milionários que, pelo visto duram pouco no clima europeu e suas atrações noturnas.

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