sábado, 6 de dezembro de 2008

Lula nas alturas e o auto-engano


Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Lula é o presidente mais bem avaliado da história recente. Bateu seu próprio recorde. Em setembro, 64% aprovavam sua administração. Hoje, 70% o consideram bom ou ótimo. É um patrimônio gigantesco para um ocupante do Palácio do Planalto em tempos de democracia e às vésperas de uma grande crise na economia.

Gráficos do Datafolha compararam ontem Lula a outros presidentes pós-ditadura militar (1964-1985). José Sarney (1985-90) nunca passou de pífios 11% de aprovação.

Fernando Collor (1990-92) foi a 36%. Itamar Franco (1992-94) avançou a 41%. FHC no primeiro mandato (1995-98) bateu em 47%.

No segundo período, o tucano foi uma decepção -sua taxa máxima caiu a 31%. Tudo somado, ninguém chegou nem perto do petista.

Mas as curvas das pesquisas do Datafolha contêm mais detalhes do passado democrático do Brasil. Em março de 1990, antes de Collor tomar posse (naquela época os eleitos assumiam nesse mês), 71% esperavam que ele fizesse um governo bom ou ótimo. Três meses depois, a aprovação da administração collorida era de apenas 36%.

Nos seus três primeiros meses de governo, Collor fez uma das mais catastróficas gestões políticas e econômicas da história do país. O dinheiro dos brasileiros ficou congelado nos bancos. A crise econômica foi brutal. O PIB (soma das riquezas do país) caiu 4,4%. A inflação de 1990 atingiu 1.639%.

Nada indica um ano de 2009 semelhante ao de 1990, embora seja certa alguma desaceleração da economia brasileira. O tamanho da queda determinará a extensão do recuo na popularidade estratosférica de Lula. O presidente sabe o que se passa e prefere recomendar um pouco de auto-engano. Nas suas finas palavras, ninguém fala "sifu" para um doente. Pode ser. Mas fingir não enxergar a crise não ajuda em nada na sua solução.

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