sábado, 6 de dezembro de 2008

O que Lula diz, o que Lula faz


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tomado de aparente ira santa, em cerimônia-comício no Rio de Janeiro: "O que aconteceu com o famoso mercado onipotente?

Quando o mercado tem uma diarréia, quem eles chamaram para salvá-lo? O Estado que eles negaram durante 20 anos".

De texto assinado pelo mesmíssimo Lula, após a cúpula do G20 no mês passado em Washington:

"Nosso trabalho [dos líderes do grupo] será guiado por uma crença compartilhada de que os princípios de mercado, de livre comércio e regimes de investimento abertos, e mercados financeiros efetivamente regulados, estimulam o dinamismo, a inovação e o empreendedorismo que são essenciais para o crescimento econômico, o emprego e a redução da pobreza".

Não há, pois, o menor parentesco entre o que diz o presidente em público e o que assina no escurinho do cinema, bem ao lado do "eles", o sujeito oculto de sua primeira frase -no caso, os líderes mundiais que transformaram em religião a crença no livre mercado.

O comício do Rio é, pois, retórica vazia, engana-trouxa.

No comício do Rio, Lula deu a entender que está havendo uma recuperação do Estado, "negado durante 20 anos". Engano. O que está havendo é o de sempre: a privatização do dinheiro público e a estatização do risco. Nada que não tenha acontecido desde que os mercados se tornaram "onipotentes".

O Estado dá dinheiro, mas não tem o comando do que fazem com ele. Tanto que o próprio Lula se sentiu compelido a reclamar, também publicamente, de que os bancos não estavam soltando o dinheiro liberado pelo governo. Foi desmentido no dia seguinte por Fabio Barbosa, presidente da Febraban, e enfiou a viola no saco.

Enfim, nada de novo na retórica de Lula; apenas o retorno às bravatas do passado. Inócuas.

Um comentário:

C. L. DeMedeiros disse...

acompanho tudo de longe
com o meu coraçao na mão
e' triste pensar
que um pais com tantas possibilidades
virou um bastião de corruptos:
quando tomam o poder dão as costas as verdadeiras questões que precisam ser vistas, tomam decisoes populistas
e a sujeira nunca deixa de se acumular...

abraços