quarta-feira, 25 de março de 2009

Centro de governo e governabilidade

Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO


A ministra Dilma Rousseff vem adquirindo traquejo político de candidata a presidente da República e encontra-se, no momento, em estágio posterior à figuração em cenas de propaganda preparatórias para a grande campanha eleitoral sucessória. A chefe da Casa Civil já participa de reuniões partidárias, nas quais esboça modelos políticos que está formulando para seu governo, caso seja eleita. Na quinta-feira, 5 de março, convidou para um café da manhã dois integrantes da cúpula do PCdoB, o presidente Renato Rabello e o ministro do Esporte, Orlando Silva. E com eles teve uma conversa abrangente, em que expôs um desenho político e administrativo para o futuro, além das bases sobre as quais traçar um plano econômico.

A ministra combinou manter com eles, e outras direções partidárias, conversa constante, sistemática, uma troca de ideias sobre a montagem e sustentação política de um possível governo. Neste encontro de março, chamou a atenção dos convidados a formulação teórica da ministra sobre a necessidade de se criar um "centro de governo", a ser integrado por determinados partidos que guardem identidade política com a Presidência da República, e uma estruturação da "governabilidade", em que teriam assento outras legendas.

Evidentemente que tudo isto foi acompanhado das devidas ressalvas - "se eu for mesmo candidata", "se eu for eleita"... A ministra usou sua experiência nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se inspirar e fazer aos seus interlocutores uma explanação sobre o modelo que procura. Lembrou que, na primeira eleição, o centro do governo foi formado por um grupo de ministros fortes, importantes, todos do mesmo partido, estrelas, afinados com o projeto do presidente, mas, após 2005, quando houve a crise do mensalão (ela, claro, não pronunciou esta palavra) o centro do governo, onde tinham lugar José Dirceu, Luiz Gushiken, Antonio Palocci, Luiz Dulci, derreteu, deixou de existir.

A partir de então, e durante todo o segundo mandato, até agora, formou-se espontaneamente outro centro, mas absolutamente com espaço exclusivo para o presidente Lula. Sua parceria com a ministra chefe da Casa Civil é inquestionável, ele respeita, confia e é bastante próximo, mas gostou de decidir ouvindo um aqui, outro ali, e determinando em seguida o rumo a seguir.

Dilma Rousseff disse à cúpula do PCdoB que, no caso de uma Presidência da República sem a presença de Lula, será muito importante ter um centro de governo de que participariam os partidos que se identificam com os propósitos, os objetivos mais explícitos do governo, legendas que, elas próprias, tenham identidade política e formem, com o presidente, a força tarefa para comandar o governo. Neste ponto a ministra disse que, pela razão exposta, no centro deveriam estar partidos como o PCdoB e o PSB.

Conceito diferente foi dado à questão da governabilidade que, segundo avaliou, é impossível conquistar sem ter um partido grande, como o PMDB, entre os aliados. Para ser uma política hábil, termo utilizado por Dilma aos seus interlocutores, seria necessário construir uma ampla frente, mas com destaque para o papel do PMDB, dada a sua dimensão, explicou.

Ao expor suas ideias sobre um futuro governo, a ministra deixou claro que administrar o país, ou mesmo enfrentar uma campanha presidencial com possibilidade de êxito, são tarefas impossíveis sem o PMDB. A governabilidade, comentou, depende da ação do centro de governo, mas depende também da capacidade do presidente, de sua habilidade em construir uma frente política mais ampla para governar, em função da heterogeneidade do pais, ensinou.

Nesta reunião a ministra conversava com um partido que, integrante do bloco de esquerda, ainda não tem decisão sobre qual candidatura acompanhar em 2010, pois Ciro Gomes (do aliado PSB) ainda não definiu se será ou não candidato a presidente. Dilma afirmou a Renato Rabello e Orlando Silva seu apreço por Ciro, destacou a contribuição por ele dada ao núcleo do governo Lula, quando ainda existia, na época da crise política mais importante, de 2005, mas não avançou em considerações sobre o cargo de vice-presidente na sua chapa, pelo que se entendeu reservado ao PMDB, ou sobre a expectativa criada por Lula de ter um só candidato a presidente da base aliada, o que os partidos do bloco, Ciro incluído, consideram um erro.

Outro aspecto da agenda deste encontro que chamou a atenção de Renato Rabello foi o empenho da ministra em expressar seu pensamento sobre um projeto econômico, evitando, porém, o futuro muito distante. Falando de agora, Dilma enfatizou a importância de o Brasil crescer pelo menos 2,5% em 2009, o que considera vital para um bom resultado do governo.

Mesmo assim, tem convicção que é uma previsão negativa com relação aos níveis de desenvolvimento que o Brasil vinha apresentando até outubro do ano passado. Mas, hoje, diante da realidade de crise, se for possível evitar cair a zero, ou 1%, e ficar no patamar de 2,5%, será registrado vitória, avaliou.

Por mais básicas que sejam as ideias contidas nesta conversa, a iniciativa é um eloquente flagrante da movimentação política inicial da candidata do PT à sucessão de Lula.

Juros eleitorais

Voltou a ganhar força no governo a antiga conjectura, que novamente assume caráter de informação, sobre a volta de Henrique Meirelles, presidente do BC, à política partidária, para disputar, em 2010, um mandato por Goiás. A decisão ocorreria no final do ciclo de redução dos juros, taxa selic que, se de baixa estatura, se tornará bálsamo às campanhas eleitorais governistas. Desta vez, o destino de Meirelles seria o governo do Estado.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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