DEU EM O GLOBO
O Grupo Eletrobrás investiu, de janeiro a agosto, R$ 2,173 bilhões em sistemas de geração e transmissão de energia, apenas 38% dos R$ 7,243 bilhões planejados para o ano. Os dados são do site de acompanhamento das finanças públicas Contas Abertas e foram calculados com base em informações do Departamento de Coordenação das Empresas Estatais (Dest). A explicação de que raios, ventos e chuvas fortes causaram o apagão da última terça-feira não convence especialistas do setor. Técnicos ouvidos pelo GLOBO não descartaram a possibilidade ter ocorrido falha humana na operação do sistema. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já estuda a adoção de uma rota alternativa da energia vinda da usina de Itaipu para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, os mais afetados com o blecaute.
Risco alto, investimento baixo
Eletrobrás usou este ano 38% dos R$ 7,2 bi planejados para geração e transmissão
Eliane Oliveira e Gustavo Paul BRASÍLIA
Responsável por cerca de 56% das linhas de transmissão que interligam o país, o Grupo Eletrobrás — formado por uma holding e quatro subsidiárias — investiu, de janeiro a agosto, R$ 2,773 bilhões, apenas 38% dos R$ 7,243 bilhões planejados para este ano nos sistemas de geração e transmissão sob sua responsabilidade.
Neste ritmo de execução, o percentual realizado tende a ser, ao fim de 2009, o mais baixo dos últimos dez anos — período durante o qual nunca a estatal conseguiu entregar mais de 80% dos investimentos que estavam previstos no seu orçamento.
Os dados, do site de acompanhamento das finanças públicas Contas Abertas, foram calculados com base em informações do Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest) do Ministério do Planejamento.
Para o presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, o baixo desempenho dos investimentos da Eletrobrás ocorre porque a empresa está sem foco, preocupada mais com aspectos políticos do que técnicos. Ele considera o montante concretizado pequeno para o que o grupo pretende se tornar: — A Eletrobrás não tem claramente uma direção nesse plano de investimentos.
Quer atender o presidente Lula e virar a Petrobras do setor elétrico. Quer investir no exterior, quando há tantos problemas no Brasil a se resolver. Por isso, está completamente sem foco. Quer abraçar muitas coisas e acaba tendo dificuldades do ponto de vista empresarial
Até agosto, gasto estaria em 49%
Procurada, a holding informou que as empresas do sistema Eletrobrás já realizaram, até setembro, 49% do orçamento previsto para este ano na área de geração. O percentual é o mesmo para a transmissão.
Ainda segundo a companhia, até o fim do ano o desempenho será de 70% do Orçamento, o equivalente a R$ 7,2 bilhões.
Em seu site, a holding promete gastar R$ 2,54 bilhões este ano em construção, ampliação e reforços de linhas de transmissão no país. A estatal planeja 28 novas linhas de transmissão de Furnas, Chesf, Eletronorte e Eletrosul, construídas com recursos próprios ou em parceria, num total de 9.780 km, entre 2009 e 2012.
“A realização do orçamento é impactada pelos procedimentos legais e ambientais que necessitam ser cumpridos. Exemplo deste último item é a usina Angra 3, que deveria ter começado a ser construída em março, mas, devido à espera pelo licenciamento ambiental, só iniciou as obras em outubro”, afirmou a empresa, em resposta ao GLOBO.
Furnas é responsável pelas linhas de transmissão que, sob curto circuito entre as subestações de Itaberá e Tijuco Preto, em São Paulo, fizeram o país registrar o maior apagão desde 1999. Na terça-feira, quando Itaipu parou, ficaram sem luz, total ou parcialmente, 18 estados. Ontem, Furnas divulgou nota garantindo que de 2005 a 2008 foi investido “R$ 1,089 bilhão em modernização, com obras de melhoria e reforço do sistema de transmissão.
Este ano, até setembro, o montante chegou a R$ 162 milhões”.
Segundo o consultor Reginaldo Medeiros, ex-secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), a holding só pode investir sozinha em planos de modernização ou expansão do que já dispõe: — Nas licitações, tanto para geração como para linhas de transmissão, a Eletrobrás precisa disputar com outras empresas.
Apesar das deficiências apontadas, o sistema tem se expandido. Dados do Ministério de Minas e Energia mostram que os investimentos no governo Lula em geração e linhas de transmissão são maiores do que os feitos pelo governo Fernando Henrique.
Lula assumiu o governo em 2003 com 80.315 megawatts (MW) de capacidade instalada no sistema de geração, o que, desde então, cresceu em 25.596 mil MW, com oferta total, em 2009, de 105.911 MW. No governo anterior, a energia gerada adicional foi de 21.418 MW (entre 1995 e 2002). No governo atual houve um acréscimo de 32.160 km na rede de linhas de transmissão, enquanto no anterior o total apurado foi de 10.020 km.
— Os investimentos em geração e transmissão estão sendo feitos, mas poderiam ocorrer de forma mais rápida e mais rigorosa, com um monitoramento maior no sistema de proteção. Se o apagão da última terça-feira tivesse acontecido durante o dia, haveria um grande prejuízo para o setor industrial — comentou Otávio Santoro, diretor executivo da Indeco Energia e Águas.
Já Reginaldo Medeiros destacou que, em 2003, foi dada continuidade a vários projetos que começaram na administração anterior, como a construção de termelétricas. No entanto, o governo Lula passou a ter características próprias, com uma ampla rede de interligação entre as regiões, obras hidrelétricas gigantescas, como as duas usinas do Rio Madeira, em Rondônia, e o incentivo à produção de combustíveis renováveis, com destaque para etanol e biodiesel.
— O governo atual avançou muito, interligando o sistema e permitindo a entrada de novas empresas de geração de energia. Mas os investimentos ainda são tímidos — diz o consultor de energia renovável e sustentabilidade da Trevisan, Antonio Carlos Porto Araújo
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sexta-feira, 13 de novembro de 2009
Governo só investiu 38% do previsto em energia
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