sexta-feira, 23 de julho de 2010

As Farc, lá e cá :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - O famoso... como é mesmo o nome dele? Ah, sim. O famoso Indio da Costa, candidato a vice de Serra por pressão do DEM e por absoluta falta de opções, vem apanhando um bocado por jogar as Farc no centro do debate eleitoral e no colo do PT. Deve ter sido por inexperiência, mas acabou se revelando uma jogada oportuna a partir dos últimos fatos políticos eletrizantes aqui no continente.

Imagine você o embaixador da Colômbia na OEA mostrando filmes, fotos aéreas, nomes, locais, testemunhas, um denso material para comprovar que a Venezuela de Chávez abriga, sim, acampamentos não apenas das Farc mas também do ELN, o outro grupo guerrilheiro colombiano.

Chávez contra-ataca anunciando o rompimento das relações entre os dois países, às vésperas da troca de governo de Álvaro Uribe para seu ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos, que toma posse dia 7.

A impressão é que a Colômbia decidiu chutar o pau da barraca com a Venezuela agora para Uribe pegar pesado e liberar Santos para pegar leve. Se Uribe é linha-dura contra as Farc, Santos é linha-duríssima. Mas ele mostra mais disposição ao diálogo e a uma boa convivência com a vizinhança esquerdista, inclusive com Chávez.

O fato é que as Farc são o tema "caliente" da região e isso reforça a polarização nas eleições brasileiras, que tem de tudo, até os pró-Chávez e os anti-Chávez. Quando o tal Indio da Costa empurrou as Farc para Dilma e o PT, eles passaram a bater boca em público com o vice do adversário, que tinham menosprezado, até ridicularizado. Ele era pequeno, insignificante. Cresceu, ganhou estatura. O PT inflou o vice de Serra ao se esquecer da máxima: "falem mal, mas falem de mim".

A expectativa para os próximos dias é de maior contaminação ainda do conflito Colômbia-Venezuela no debate eleitoral interno. A política externa, assim, arrasta a divisão ideológica para os palanques.

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