sábado, 2 de outubro de 2010

Correa pretende desviar atenção, diz ex-presidente

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Tadeu Breda
Apontado pelo presidente Rafael Correa como mentor dos distúrbios no Equador, o ex-presidente Lucio Gutiérrez (2003-05) nega envolvimento."Ninguém quer derrubar Rafael Correa. Queremos que ele termine seu mandato, vá para casa e deixe os equatorianos em paz", disse à Folha por telefone de um hotel em Brasília, onde está, afirma, para "observar as eleições" de amanhã.Há cinco anos ele foi retirado do país com ajuda do Brasil após ser derrubado por manifestantes. Leia trechos de sua entrevista:

Folha - O sr. está por trás dos distúrbios?

Lucio Gutiérrez - As acusações de Rafael Correa são falsas e temerárias. Está sempre me culpando de tudo. O grande culpado por este episódio é ele. Seu governo é abusivo, corrupto e totalitário. É um governo intolerante, que não respeita os direitos dos cidadãos.

A suposta tentativa de golpe é justa?

Ninguém no Equador quer golpe de Estado. Correa quer desviar a atenção da opinião pública sobre o desemprego, a pobreza e as denúncias de corrupção. O único golpista é Correa.

As imagens de TV mostraram os policiais rebeldes gritando seu nome.

Eu ganhei a presidência com 3 milhões de votos, e todas essas pessoas certamente são contrárias às atitudes ditatoriais do presidente. Estou no Brasil há dois dias. Tudo isso é fruto da irresponsabilidade dele, que abusa do poder e não permite a liberdade.

Por que a rebelião surgiu na Polícia Nacional?

Porque os policiais foram prejudicados em seus direitos. Rafael Correa aprovou uma lei para acabar com os benefícios da carreira. O presidente destruiu um órgão da Polícia Nacional chamado Unidade de Investigações Especiais, que descobriu funcionários do governo vinculados ao narcotráfico. Foi também a polícia que denunciou a presença de ex-guerrilheiros trabalhando na administração pública e que detém informação sobre os vínculos de Rafael Correa com as Farc [guerrilha colombiana].

Mas por que a violência?

Porque vêm sendo permanentemente agredidos. Assim também reagiram os indígenas e os estudantes, mas, como não têm armas, foram reprimidos de maneira brutal pelo governo.

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