O PSDB sentiu-se lisonjeado com o reconhecimento da presidente Dilma Rousseff ao papel de Fernando Henrique Cardoso para o desenvolvimento do Brasil, na carta de felicitações pelos 80 anos do ex-presidente.
Já o PT fez que não ouviu. Lula pode ser que ainda faça um gesto de boa educação daqui até sábado, quando o desafeto com quem outrora dividiu afetos faz aniversário.
De qualquer modo, os petistas trataram a coisa à sua maneira. A eles interessa muito mais o efeito do ato, no que pode render de boa vontade por parte da oposição e de uma boa imagem para Dilma, do que revisar pensamentos e procedimentos.
Não há sinal de autocrítica no horizonte. E principalmente no horizonte futuro das disputas eleitorais. O PT continuará batendo na tecla da desconstrução do período FH, muito embora petistas aqui e ali prestem reverência à verdade dos fatos.
Tomemos as privatizações dos aeroportos: se renderem bons resultados, não serão reconhecidas como prova de equívoco anterior do PT, mas incluídas como crédito à capacidade do partido de fazer bem feito o que o adversário fez malfeito.
Daí a prudência aconselhar comedimento às comemorações tucanas.
Dilma Rousseff faz as honras da casa, mas quem manda no partido é Lula e este não abrirá mão do conflito pesado, base da disputa eleitoral. Na entressafra tudo são flores.
Quando chegar a época adequada voltará ao cenário a tese genericamente conhecida como a da herança maldita sem que Dilma possa vir a aparecer em público reconhecendo os feitos do adversário.
O PSDB nunca compreendeu inteiramente a necessidade da defesa de seu capital e demonstrou isso não só quando titubeou em 2002, claudicou em 2006 e se esborrachou em 2010 ao deixar FH propositadamente fora da campanha.
Mostrou especial inépcia ao tentar ganhar sem enfrentar Lula, que, por sua vez, é dono da mais perfeita noção de que disputa implica briga. É cada um do seu lado, um tentando anular o outro e que vença quem souber melhor atacar e se defender.
Lula é um ás na matéria. Como tal é ele quem dará todas as cartas na eleição, campo onde conta mais a competência política para a montagem das condições de batalha do que o conjunto dos atos do governante no curso do mandato.
Exemplo? Fernando Henrique, agora descrito em carta por Dilma como um fantástico presidente, não elegeu o sucessor porque lhe faltaram astúcia e organização político-eleitoral.
Coisa que Lula teve de sobra ao governar oito anos exclusivamente pela lógica eleitoral e eleger alguém politicamente dependente e incapaz de lhe fazer sombra. Aqui não vai nem de longe o reconhecimento da correção da prática, mas é o fato.
E esse fato na hora H vai prevalecer sobre qualquer movimento ou tentativa de marcar posição de independência que possa fazer a presidente em períodos de entressafra eleitoral.
Entrada em cena. Se de um lado são precitadas as cobranças e queixas dos aliados já no primeiro dia de trabalho da ministra Ideli Salvatti, de outro a impaciência expressa a má vontade em relação a ela.
Não ajudou a ministra ter dito que obedece à hierarquia em seus contatos: primeiro os presidentes da Câmara e do Senado, depois as bancadas.
Deputados e senadores não fazem essa distinção.
Mesa redonda. No jantar em homenagem a Fernando Henrique Cardoso na sexta-feira passada o senador Aécio Neves comentava planos futuros do PSDB, apontando para a mesa onde estavam todos juntos os economistas do Plano Real: "Vamos reunir esse pessoal de novo para discutir um projeto de País".
A tarefa de patrocinar o debate seria do Instituto Teotônio Vilela. Em tese, os economistas - hoje cada um cuidando de suas vidas e nem um pouco entusiasmados com o desempenho do partido - gostam da ideia de recuperação da capacidade de formular, mas acham imprescindível que o partido não se fie só nos veteranos e recrute gente nova se quiser ter sucesso na empreitada.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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