quinta-feira, 21 de julho de 2011

Juro sobe, e inflação controlada só em 2013

Inflação mais longe do controle

Martha Beck Wagner Gomes
BC sobe juro em 0,25 e pode interromper ciclo de altas. Centro da meta fica para 2013

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem, por unanimidade, fazer nova elevação de 0,25 ponto na Taxa Selic, que chegou a 12,5% ao ano - maior patamar desde janeiro de 2009, após a quinta alta consecutiva. O BC, no entanto, surpreendeu o mercado ao indicar que o ciclo de alta dos juros pode ter chegado ao fim. Analistas consideram arriscada esta opção e acreditam ser difícil que a autoridade monetária consiga levar a inflação ao centro da meta de 4,5% pelo IPCA em 2012.

Economistas, com isso, acreditam que o centro da meta só seja alcançado em 2013. Fontes do BC, no entanto, garantem que a previsão é que as medidas de aperto monetário que começaram a ser tomadas no fim do ano passado possam produzir resultados significativos no segundo semestre deste ano. Por isso, o BC poderia afrouxar as altas de juros em breve.

Após as reuniões de abril e junho, os comunicados deixavam claro que o aperto nos juros seria realizado pelo período que fosse necessário para fazer a inflação convergir para o centro da meta em 2012. Ontem, porém, o texto foi breve e disse apenas que a nova elevação da Selic foi considerada necessária "neste momento".

"Avaliando o cenário prospectivo e o balanço de riscos para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, elevar a taxa Selic para 12,5% ao ano, sem viés", afirma o comunicado. Segundo o estrategista do Banco WestLB, Roberto Padovani, a mudança no tom é significativa:

- O fato de o BC ter tirado do texto a expressão "por um período suficientemente prolongado" de alta dos juros e incluído "neste momento" chama a atenção. As duas coisas combinadas estão dizendo que o BC indica a possibilidade de não elevar os juros em agosto - disse Padovani - O BC realmente está correndo riscos, mas o comunicado não é definitivo. Deixou a porta aberta para eventualmente fazer uma pausa na elevação dos juros.

O economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Telles, ressalta que o BC deveria manter a alta dos juros se quiser manter o objetivo de fechar 2012 com o IPCA dentro da meta. Para ele, mesmo que o BC decida subir a Selic mais uma vez na próxima reunião, ele já estará mirando 2013.

- Com Selic de 12,75%, o BC não entrega o centro da meta em 2012. Ele pode deixar para fazer isso em 2013.

A Austin Rating revisou a estimativa para a Selic de agosto (a próxima reunião é nos dias 30 e 31): passou a apostar em estabilidade, e não mais em nova alta de 0,25 ponto. Mas a agência ressaltou que a divulgação da ata do Copom, na próxima semana, será "importante para que nosso cenário prospectivo seja revisado". Já o Santander manteve a aposta em mais duas altas, com a Selic fechando 2011 a 13%.

- A resposta será concentrada no segundo semestre. O BC está convicto de que a resposta (à política monetária) virá em linha com as previsões apresentadas no Relatório de Inflação, de que os índices cairão a partir de agora - afirmou uma fonte.

De oito analistas ouvidos pelo GLOBO, só dois acreditam que o centro da meta, de 4,5%, poderá ser alcançado em 2012. Para o economista do Banco Espírito Santo (BES), Flávio Serrano, a política monetária implementada não foi suficiente para domar a inflação.

- Em agosto, a inflação mensal rodará em 0,25%, o que, pelos sinais do BC, significa que já dá para encerrar o ciclo de alta - disse Serrano.

Segundo o economista da consultoria Tendências Silvio Campos Neto, a pressão inflacionária de 2011 - que fará com que o IPCA de 12 meses fique em torno de 7% já em agosto - tende a ser levada para 2012 e ainda se agravar por conta de fatores como o reajuste do salário mínimo e as negociações para aumentos no funcionalismo público.

- As expectativas ainda estão desancoradas e o cenário de inflação para o ano que vem não é positivo. Por isso, o BC deveria manter o ciclo de alta dos juros por mais tempo - afirma Campos.

IPCA-15 ficou em 0,10% em julho

Para Padovani, do WestLB, o BC ainda tem condições de fazer com que a inflação caminhe para o centro da meta em 2012 (de 4,5%). Um dos fatores que podem contribuir para esse quadro são a desaceleração da economia - que já começa a dar algum sinal - e uma eventual queda nos preços de commodities.

Para a economista Silvia Matos, da FGV-RJ, mais duas altas da Selic, em agosto e outubro, podem levar a inflação a um patamar mais razoável em 2012, mas não para o centro da meta. Na previsão da MCM Consultores Associados, o IPCA ficará entre 5,5% e 5,8% em 2012. Já o banco WestLB aposta em inflação de 4,8% no ano que vem e a BES Investimento, de 4,8%. Também acima da meta, aparecem MB Associados (5,3%), Tendências (5,2%) e Santander (6%).

A alta gradativa dos juros traria a inflação de volta ao centro da meta só no fim de 2012, segundo o Bradesco, que espera que a Selic passe para 12,75% até o fim deste ano.

A alta da Selic ocorreu no dia em que a inflação surpreendeu positivamente o mercado: o IPCA-15 de julho foi de 0,10%, no piso das expectativas, que iam de 0,10% a 0,22%. O índice é uma prévia do IPCA, da meta do governo. Em junho, o índice ficara em 0,23%.

- Teremos pressões em 2012, que começa com um forte aumento do salário mínimo. Vejo o próximo ano com pressão inflacionária muito parecida com a que ocorreu em 2011 - disse Silvio Paixão, da Novinvest.


FONTE: O GLOBO

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