Trocas graduais nos ministérios e estatais promovidas pelo Planalto deixam aliados inseguros
Paulo de Tarso lLyra
A presidente Dilma Rousseff prosseguirá com as mudanças na máquina pública federal a conta-gotas, irritando as lideranças partidárias e deixando os aliados inseguros sobre os próximos passos presidenciais. Segundo apurou o Correio, Dilma se empenhará ao máximo para transformar o perfil do governo em uma gestão tecnocrática, mas de maneira lenta e gradual para que os partidos políticos não promovam motins que inviabilizem a governabilidade. "Dilma negocia, negocia, negocia, até que o interlocutor se canse e faça exatamente como ela quer", confirmou um assessor governista.
O perfil de atuação condiz com as informações recentes envolvendo a substituição de Sérgio Machado do comando da Transpetro. Machado é afilhado político do senador Renan Calheiros (AL) e um peemedebista de carteirinha, ocupando o cargo desde os tempos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, Renan e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, receberam um recado palaciano de que Dilma não pretende mexer nesse quadro no momento.
O alívio com a notícia não pode ser encarado como sensação de vitória. Dilma demorou um ano para conseguir emplacar Maria das Graças Foster na presidência da Petrobras. Lula queria a permanência de José Sergio Gabrielli no cargo pelo menos até 2013, quando ele deixaria o comando da estatal para candidatar-se ao governo da Bahia. Dilma soube que Lula não gostou da maneira como a mudança foi processada. Os dois, com o governador da Bahia, Jaques Wagner, tiveram uma longa conversa sobre o assunto no dia da posse de Aloizio Mercadante e Marco Antonio Raupp como ministros da Educação e da Ciência e Tecnologia, respectivamente.
Dilma defendeu seus argumentos para justificar a troca. E a dupla de petistas teve que aceitar as explicações. Foster, que será oficializada presidente da Petrobras na próxima reunião do Conselho de Administração da estatal, em 9 de fevereiro, fará as demais mudanças. "Graças Foster é igual a Dilma. Cobra resultados e não tem medo de cara feia. Mas sabe que temos muitos problemas na Transpetro", disse um petista que transita no setor.
Mudanças lentas
Dentre esses problemas, incluem-se os atrasos na conclusão das obras do petroleiro João Cândido que é construído pelo estaleiro Atlântico Sul para ser entregue à Transpetro. Ele deveria estar pronto para os testes de mar em dezembro do ano passado, mas o cronograma foi adiado para meados deste ano.
A mesma estratégia foi adotada pelo Palácio do Planalto com as mudanças na Fundação Nacional de Saúde (Funasa). O PMDB sempre protestou por ter perdido o comando da autarquia para o PT. Nova crise explodiu nessa semana, quando o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, confirmou a nomeação do novo superintendente da Funasa em Mato Grosso do Sul, o petista Pedro Teruel. Ele assume no lugar de Flávio Britto Neto, ligado ao governador sul mato-grossense, André Pucinelli. "O PMDB de Mato Grosso do Sul foi o único que apoiou José Serra em 2010. Do que eles estão reclamando"?, irritou-se Delcídio Amaral (PT-MS).
As mudanças no Dnocs também seguiram esse roteiro. Dilma estava insatisfeita com a condução do caso. Especialmente irritada com o destempero de Henrique Eduardo Alves (RN), líder na Câmara e padrinho do diretor-geral Elias Fernandes Neto. Mas deixou para o vice-presidente, Michel Temer, a missão de acalmar o correligionário e mostrar para ele que o caminho do confronto com o Planalto não era a melhor opção. Temer avisou que a situação de Elias era insustentável e construiu a opção para deixar Henrique escolher o sucessor. "Mas ele sabe que terá de ser um nome com um perfil minimamente qualificado", admitiu um interlocutor do partido.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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