A presidente da Petrobras, Graça Foster, assume a empresa com alguns problemas a resolver. O mais espinhoso talvez seja o do preço da gasolina. O reajuste é impopular, a classe média acha que já paga demais, mas a empresa está tendo prejuízo diário ao importar gasolina a um preço maior do que tem que entregar às distribuidoras. A demanda sobe, a importação cresce, e o desequilíbrio aumenta.
Ontem, o diretor financeiro Almir Barbassa se esforçou para explicar por que o mercado tinha previsto um lucro bem maior do que foi apresentado no último trimestre. O lucro foi divulgado na noite de quinta-feira, e as ações despencaram 8%, na sexta, último dia da gestão Gabrielli.
Uma das explicações dadas por ele é que aumentou de 28% para 32% a participação de importados nas vendas do período. No ano fechado de 2011, o consumo da gasolina cresceu 24%. Em janeiro, a empresa já avisou que o consumo de gasolina, comparado com o mesmo mês do ano passado, aumentou 36%. Quanto mais cresce o consumo, mais a empresa tem que importar, e com toda a sua "autossuficiência" está tendo prejuízo no negócio e ainda aumentando o déficit do setor na balança comercial.
É difícil convencer quem está suando para encher o tanque, mas a verdade é que o governo brasileiro está subsidiando a gasolina há vários anos. Argumentavam que o motivo do congelamento era a instabilidade do preço internacional, mas o governo fez isso para se manter popular, ter ganhos eleitorais e manipular a inflação. O preço do petróleo sempre será instável, mas há muito tempo está acima dos níveis em que estavam quando esse valor foi decidido. O que ajuda a diminuir o prejuízo é a queda do dólar; aliás, problema que preocupa o governo por estimular a importação de todos os outros bens e produtos.
Em 2003, quando o ex-presidente José Sérgio Gabrielli assumiu a diretoria financeira, o preço internacional do barril de petróleo estava em US$ 31. Dois anos depois, quando assumiu a presidência, o preço já havia pulado para US$ 55. Pois chegou a passar de US$ 140, em 2008, e agora está em US$ 117. Na última vez em que o preço da gasolina comprada pela distribuidora subiu, foi a R$ 1,55. Agora, está em R$ 1,51, valor menor do que o preço pago em setembro de 2005. A Petrobras já teve nos últimos seis anos aumento da sua remuneração, mas que foi absorvida pelo governo através de redução de imposto (a Cide), para que o reajuste não chegasse ao consumidor. Atualmente, o etanol, energia renovável, paga mais imposto que o combustível fóssil. Desorganiza-se assim também a cadeia produtora do etanol.
Como desatar esse nó? É "tudo com você, Graciosa", como diria a presidente Dilma Rousseff. Não haverá outra forma, que não reajustar o preço. Ela assumiu falando em continuidade, mas sabe que está com essa batata quente na mão deixada pelo seu antecessor. Gabrielli, numa entrevista concedida a Fernando Dantas, do "Estadão", no domingo, disse que os preços têm que subir em "algum momento" e que se forem mantidos ocorrerá "um processo completamente irracional e ilógico de alguns distribuidores comprando derivados da Petrobras para exportar". Isso seria lógico e racional da parte do ex-presidente, se não fosse o oposto do que ele praticou e defendeu como bom durante todos os últimos anos.
A Petrobras é estatal e em nenhum governo esteve à venda, mas tem cada vez mais sócios privados. Desde grandes empresas até pequenos investidores que entraram em fundos da Petrobras com seu precioso dinheirinho de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Gente que tem planos para o dinheiro aplicado em ações que já valeram R$ 50 e agora estão em R$ 24.
Uma animadora declaração da nova presidente foi a de que a segurança em relação ao meio ambiente é tão importante que se houver risco ambiental pode adiar até mesmo procedimentos do pré-sal. Bom ouvir isso, porque exatamente quando a Petrobras vai mais fundo na exploração de petróleo é que é mais necessário aperfeiçoar todos os protocolos para evitar qualquer desastre. E nessa área, quando o imprevisto acontece, o estrago pode ser grande como provou o terrível acidente da British Petroleum no Golfo do México.
Ela disse que não haverá mudanças na política de conteúdo nacional para a compra de equipamentos ou plataformas, porque essa é uma diretriz do governo. O problema é que a diretriz não tem sido seguida, até pela dificuldade de encontrar fornecedor nacional no percentual adequado. Graça Foster disse que cumprirá o cronograma de investimentos. A empresa tem pesados investimentos pela frente, como operadora do pré-sal e todos os seus outros compromissos. Para isso, ela terá que captar em parte no mercado internacional. No meio de uma crise é mais difícil. Se houver um agravamento que afete o mercado de crédito, a empresa pode ter dificuldades para financiar esses investimentos. Graça Foster disse também que continuará vendendo ativos que não forem essenciais ao negócio; e continuará investindo em etanol, inclusive com novas aquisições, se necessário. Aí ela entrou em contradição porque na expansão da produção de etanol a Petrobras tem adquirido empresas que também produzem açúcar. Convenhamos, açúcar não pode ser considerado essencial para uma empresa de petróleo.
A gestão de Gabrielli foi marcada pela interferência governamental direta e pelo envolvimento da empresa em campanhas partidárias. Mesmo sendo incondicional a fidelidade de Graça a Dilma, seria bom para a empresa critérios mais técnicos nas decisões.
FONTE: O GLOBO
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