Alimentos e serviços devem pesar no orçamento dos brasileiros, com aumentos de até 9%
Fabiana Ribeiro
Mais uma vez, os brasileiros vão ter um ano com alimentos e serviços pesando - e muito - no orçamento, alertam especialistas. Os seus preços devem subir até 9%. E outras pressões vão vir por aí. Em 2013, está praticamente certo o reajuste na gasolina, após sete anos sem repasse direto da Petrobras para o consumidor. Os contratos, como os de aluguel, regidos pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) - que deve fechar acima de 7% este ano - devem tirar o sono de muitas famílias. Mesmo assim, projeções apontam para inflação pouco menor do que a de 2012, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechando 2013 com variação em torno de 5,4%. Abaixo do que se deve ver em 2012, é fato. Distante, porém, do alvo de 4,5%, centro da meta estabelecida pelo governo.
- Esperamos 5,4% de IPCA ano que vem, sem contar com o reajuste na gasolina. Com um reajuste de 10% no combustível, esse número chega muito fácil em 6% pelos impactos adicionais em álcool especialmente. Esse número, 5,4%, está dentro da meta usual do Banco Central (BC) hoje e deve ser visto como razão para manutenção da taxa básica de juros Selic em 7,25% ao ano - afirmou Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Nas contas da consultoria LCA, os alimentos devem encerrar 2013 subindo 6% em média - alta expressiva, sem dúvida, mas ainda assim uma desaceleração frente aos 10% esperados neste ano. Em 2012, de acordo com a prévia do IPCA, o grupo ficou na dianteira dos avanços nos preços: 9,84%. Vários alimentos mostraram altas expressivas, como a farinha de mandioca (84,90%), o arroz (37%) e o feijão carioca (37,74%). Com alta de 9,40%, as despesas pessoais foram o segundo grupo de maior variação em 2012. Destaque para o custo com salários dos empregados domésticos, que aumentaram 12,75%.
Para o economista da LCA Fábio Romão, o cenário no próximo ano para a alimentação é melhor porque há expectativa de que as cotações das commodities devolvam parte das altas registradas em 2012.
- Não podemos descartar, contudo, novos choques de oferta. Aliás, esses episódios devem ficar mais comuns. Se não fossem problemas de quebra de safra, os preços dos alimentos teriam subido em torno de 5% e 6% em 2012 - disse Romão, ponderando que o preço da energia elétrica deve dar certo alívio nas contas dos brasileiros.
- Não fosse o trigo ter disparado por causa da seca americana e o tomate por aqui ter estragado o meio de ano do brasileiro, o IPCA estaria fechando o ano em 5%. Os preços livres estragaram a convergência do BC, mas esta virá - aposta André Guilherme Perfeito, economista da Gradual Investimentos.
Novos choques podem vir em 2013
Analistas não descartam, portanto, que ocorram novos choques de oferta no próximo ano devido aos problemas climáticos. Um risco que, certamente, pode corroer com mais força do que o esperado pelos analistas o poder de compra dos brasileiros.
- Alimentação é sempre risco e tem que ser acompanhado de perto. Basta lembrar que o susto de julho deste ano mudou totalmente o cenário de inflação e joga as expectativas para cima no ano que vem por um caráter inercial da inflação ainda - acrescentou Vale.
Luis Otávio Leal, economista do banco ABC Brasil, acrescenta que, a despeito de o país crescer apenas cerca de 1% este ano, a inflação de serviços deve fechar 2012 próximo de 9%. Para ele, como o governo não parece ter como estratégia reduzir a demanda doméstica, os preços dos serviços devem se manter neste elevado patamar de 9%. E, continua, mesmo considerando que o aumento real do salário mínimo em 2013 bem menor do que foi em 2012 (7,5% contra 2,7%).
- O ganho de renda em real em 2012 deve ficar em 3,9%. Em 2013, essa alta recua para 2,7%, uma expansão considerável, mas, em todo caso, menor. Com um ganho de renda menor, parte em decorrência de um reajuste menor do salário mínimo, a pressão na inflação tende a ser menor também - acrescentou Romão, para quem os serviços ainda vão continuar a ser um dos vilões do IPCA no ano que vem. - Projetamos variação similar ao que se deve observar neste ano, de 8,5%, no setor em 2013.
Gasolina, telefone e saúde terão alta
Apesar do ganho de renda mais modesto, a inflação pouco mais comportada em 2013 permite, segundo muitos analistas, segurar a taxa de juros no atual patamar, em 7,25% ano ano.
- A primeira alta de juros, a se confirmar nossas projeções de inflação, deve vir somente em janeiro de 2014 - comentou Romão.
Assim como Leal também não vê mudanças na Selic, o economista não acredita que o governo permita que o dólar suba muito acima dos R$ 2,10. Se se valorizar muito frente ao real, a inflação brasileira sobe, já que muitos preços dependem do dólar - de commodities a preços de serviços.
- O câmbio não vai explodir e o BC já deu a entender isso, de maneira sutil - afirmou Perfeito.
O economista Alfredo Coutiño, diretor da Moodys.com para América Latina, afirmou que, mesmo que os juros possam cair mais, a estratégia não é mais recomendada. Ele prevê inflação entre 5% e 5,5% no próximo ano, com pressão da demanda doméstica sobre os preços:
- O que pode induzir o Banco Central a começar a reverter o ciclo de flexibilização monetária. O Brasil parece ter adotado um objetivo duplo com sua política monetária, onde o crescimento tem a mesma prioridade que a inflação. Isso não ameaça nem reduz a independência do BC. Ao contrário, coloca a política monetária como instrumento de promover o progresso social.
Leal ressalta que o comportamento dos preços administrados - aqueles que são monitorados pelo governo federal, como gasolina, telefonia, planos de saúde, remédios, passagens aéreas e transporte público - seria de "aceleração com relação ao que foi nesse ano.
- O ano de 2013 começa parecido com este que está se encerrando. Um cenário externo ainda bastante nebuloso, sujeito a chuvas e trovoadas políticas no decorrer do período. Enquanto isso, aqui dentro, acabamos o ano com preocupações com a inflação e com dúvidas com relação ao desempenho da economia - concluiu o economista do ABC Brasil.
Fonte: O Globo
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