domingo, 23 de junho de 2013

De novo: Confronto nas ruas

Enquanto no restante do país os protestos arrefeceram e o dia foi relativamente tranquilo, inclusive em Salvador, onde jogou a Seleção Brasileira, Belo Horizonte foi palco do maior deles e de violência. Milhares de manifestantes foram pacificamente do Centro em direção ao Mineirão, onde o México bateu o Japão por 2 a 1. Impedidos de se aproximar do estádio, houve alguns enfrentamentos e a polícia usou bombas de gás. Encerrada a partida, porém, vândalos infiltrados na multidão passaram a atacar a PM e ocorreram graves confrontos. Os arruaceiros arrancaram cercas da UFMG, depredaram e saquearam lojas e concessionárias de veículos da Avenida Antônio Carlos e em grupos separados promoveram ataques em outros pontos da cidade. Várias pessoas ficaram feridas, pelo menos uma delas ao cair de um viaduto.

BH vive dia de guerra de rua

Vândalos atacam a polícia, depredam a cidade e desvirtuam manifestação pacífica que reunia mais de 60 mil pessoas

Felipe Canêdo, Guilherme Paranaíba, Isabella Souto, Paula Sarapu, Paula Takahashi e Tiago de Holanda

A maior manifestação em Belo Horizonte e uma das maiores no país desde o início dos protestos no Brasil, há pouco menos de duas semanas, reunindo mais de 60 mil pessoas, começou pacífica e terminou de forma violenta, deixando um rastro de destruição, depredações e pessoas feridas. Os vândalos infiltrados entre a multidão provocaram e atacaram a Polícia Militar com pedras, bombas, canivetes, bolas de sinuca e outros artefatos, obrigando a PM, a Força Nacional de Segurança e até o Exército a reagir para impedir o caos. Os confrontos tiveram início nos arredores do Mineirão, na Região da Pampulha, por volta das 16h, e se espalharam pela Avenida Antônio Carlos, Praça Sete e outras regiões da cidade pouco antes das 23h.

Depois de uma concentração pacífica na Praça Sete, onde cerca de 20 mil pessoas permaneceram até as 14h, os manifestantes decidiram seguir em passeata até o estádio, onde ocorria o jogo entre Japão e Mexico, válido pela Copa das Confederações. À medida que a passeata avançava, aumentava o número de participantes e também a ação de provocadores, que gritavam palavras de ordem violentas e ofendiam os militares que estavam patrulhando a região.

Os confrontos começaram quando a multidão se aproximava do estádio. Um pequeno grupo se distanciou do corpo da caminhada que seguia pela Avenida Antônio Carlos e iniciou as agressões na frente do bloqueio do Batalhão de Choque e da Força Nacional, já na Avenida Abrahão Caram, onde os policiais se posicionavam com cães farejadores e equipamentos de dispersão de distúrbios civis. Impedidos de passar pela zona de segurança imposta pela Fifa, alguns vândalos fizeram uma fogueira com folhas de palmeira e os cartazes que levaram. Também puseram fogo no mato alto de um terreno às margens da avenida. Xingaram muito os policiais e atiraram pedras, sem que houvesse reação por quase meia hora, até que os militares tentaram dispersar os manifestantes com spray de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo.

Os grupos mais exaltados, com os rostos cobertos por panos e camisas, se afastavam e retornavam ainda mais agressivos. A confusão se estendeu até o fim do jogo e os arruaceiros depredaram pontos de ônibus e placas da Copa das Confederações ao longo da via. Parte dos vândalos atacava os policiais no bloqueio, enquanto outros pichavam prédios na Avenida Antônio Carlos. Concessionárias de veículos foram atacadas. Fachadas e vidraças foram danificadas por vândalos que usavam pedaços de pau, pedras e barras de ferro para a depredação. A concessionária Hyundai teve carros destruídos: as latarias foram amassadas e os vidros quebrados. A maioria das lojas de carros na avenida retirou os carros do showroom na sexta-feira, com receio das manifestações, para evitar prejuízos, mas a Kia Motors, que também estava vazia, teve os vidros da fachada destruídos. As lixeiras de metal da Rua Professor Magalhães Penido, paralela à Antônio Carlos, foram arrancadas dos postes e depredadas.

Além das lojas, os vândalos destruíram as cercas do câmpus da UFMG, tentaram invadir a garagem e foram rechaçados por tropas do Exército que estavam protegendo o local, propriedade da União. Os militares das Forças Armadas lançaram bombas de efeito moral para repelir os ataques.

Feridos graves durante o conflito, o estudante Caio Thomé Lopes, de 17 anos, caiu do Viaduto José de Alencar, na Avenida Abrahão Caram, em frente ao câmpus da UFMG, pouco antes das 18h. Ele teve traumatismo craniano grave e fraturas nas pernas e braços. Doze pessoas foram levadas para o Hospital Risoleta Neves, quatro delas em estado grave. Ao todo 28 pessoas ficaram feridas. Os bombeiros socorreram Hector Henriques Souza Barros, de 17, que caiu e quebrou os braços.

Muita gente passou mal quando a cavalaria, concentrada sob o viaduto, avançou com apoio do Batalhão de Choque, que lançava bombas de efeito moral. O tumulto, no entanto, impedia a chegada de ambulâncias e os bombeiros fizeram alguns atendimentos a pé. Apenas uma conseguiu passar em meio aos manifestantes. Outras quatro acabaram presas no trajeto.

"Hoje (ontem) é meu aniversário e vim participar com amigos. Estava perto da grade da UFMG quando a bomba caiu aos nossos pés. Eu não estava envolvido na confusão", disse Antônio César da Silva, de 37 anos, que se machucou numa perna. Os manifestantes pediam calma e gritavam para que os demais se sentassem no chão. Por causa das agressões aos policiais do bloqueio, os torcedores que desbravaram a multidão e acabaram se atrasando não puderam entrar no estádio. "A polícia falou que eu não podia entrar, mesmo com ingresso na mão. Não sei para onde ir agora e acho que vou perder o jogo", disse o comerciante Lucinei Danilo Duarte, de 34 anos, que estava com a filha de 13 anos e mais três parentes.

Fonte: Estado de Minas

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