Ex-presidente afirma que ideia de redução serviria para atingir Igualdade Racial e Direitos Humanos
Paulo Celso Pereira
BRASÍLIA - Em meio à crise na relação entre o PT e a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em cena ontem para defender a presidente, apagar o incêndio com o partido e deixar claro que pretende atuar intensamente na política nos próximos anos. Mas sem ser candidato. Diante de um público quase integralmente formado por integrantes dos movimentos negro, de mulheres e do PT, Lula criticou os pedidos - feitos pelo PMDB e setores do PT - para que Dilma reduza o atual número de 39 ministérios, e defendeu as pastas sociais:
- Estou vendo um zum zum zum que tem gente que vai pedir para a presidenta Dilma diminuir ministério. Olha, fiquem espertos, porque ninguém vai querer acabar com o Ministério da Fazenda, com o Ministério da Defesa. Vão querer mexer com a Igualdade Racial, com os Direitos Humanos. Eu acho que a Dilma não vai mexer, eles vão falar que precisa fazer ajuste, precisa diminuir. Não tem que diminuir ou aumentar, tem que saber para que serve.
O ex-presidente desembarcou na capital federal para dar uma palestra no Festival da Mulher Afro Latino-Americana e Caribenha, no Museu da República, e foi recebido aos brados de "Lula, guerreiro do povo brasileiro" e "Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula". Com um discurso em tom de campanha, como sempre faz, levantou a plateia:
- Eu não fiz tudo o que fiz na vida para agora achar que estou errado. Eu tô mais motivado, e se alguém pensa "ah, o Lulinha está com 67 anos, pegou um câncer..." Eu não tenho tempo para parar e não preciso ser governo para fazer as coisas nesse país. Se eu incomodo, vou continuar incomodando, vou continuar falando - afirmou, tratando em seguida das divergências entre Dilma e grupos do PT. - Eu acho que a gente tem que dizer claramente: a Dilma não é nada mais do que uma extensão da gente (PT) lá. Nós seremos responsáveis pelos acertos e pelos erros.
Lula mostrou que estará em campo para defender o legado do PT, dele e de Dilma:
- Portanto, companheiros, o que a gente percebe é que mais uma vez os setores conservadores começam a colocar as unhas de fora. Eu que já estava cortando a minha, vou deixar a bichinha crescer, porque não tem moleza nesse país. Nós construímos o que construímos com muito sacrifício, todo mundo sabe o que nós sofremos para checar aonde chegamos. Portanto, a luta continua.
Na saída do evento, o ex-presidente voltou a negar pretensões de ser candidato novamente, ironizando o movimento "Volta, Lula":
- Não existe essa possibilidade, querido. Eu se pudesse ia voltar a jogar bola, mas o Felipão parece que não está me olhando com bons olhos
Perguntado sobre como está a relação do PT com Dilma - que não compareceu à reunião do diretório nacional do partido para a qual foi convidada no fim de semana -, Lula respondeu:
- É maravilhosa (a relação). Eu não sei quem descobre umas divergências que não existem. Eu fui presidente do PT e da República e muitas vezes eu não pude ir a reuniões do diretório do PT e nem por isso tinha divergência. O PT apoia 150% a presidenta Dilma, se precisar, 200%. Não há hipótese de ter divergência que não seja superada. Se tiver alguma coisa, vai ser discutida entre o partido e a presidenta.
Lula disse ainda que a queda de popularidade nas pesquisas não preocupa "nem um pouco". Assim como havia feito na semana passada, o ex-presidente voltou a dizer que está totalmente curado do câncer, e atacou os autores de um suposto boato de que ele teria tido metástase. Também reiterou a defesa da reforma política e saudou os protestos que tomaram as ruas recentemente.
O crescimento da inflação foi o único assunto que levou o ex-presidente a demonstrar cautela:
- Acho que a inflação é um mal a ser extirpado da política econômica brasileira. Tenho certeza que a presidenta Dilma pensa exatamente isso e que o ministro Guido pensa exatamente isso. Nós temos que fazer um esforço monstruoso da sociedade e do governo para não permitir que a inflação dê qualquer sinal de volta porque só tem um setor que perde com a inflação: é quem vive de salário mensal.
Fonte: O Globo
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