quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Faxina sem conseqüência - Fernando Exman

Autoridades do governo Dilma Rousseff passaram os últimos dias realizando um constrangedor contorcionismo para justificar a ausência de uma profunda alteração na estrutura e modo de operação do Ministério do Trabalho e Emprego. A operação de blindagem do ministro Manoel Dias tem como pano de fundo o esforço do Palácio do Planalto para segurar o PDT na chapa que buscará a reeleição da presidente da República. A estratégia, contudo, tem potencial para retirar de Dilma um dos principais ativos eleitorais que impulsionaram sua popularidade no início do mandato: a presidente corre o risco de passar a imagem à sociedade de que ficou no passado a gestora intolerante com o "malfeito".

O cálculo político do governo pode assegurar a Dilma mais tempo de propaganda na campanha, além da manutenção de uma sigla de esquerda numa coligação repleta de partidos de centro-direita e que já deve sofrer a baixa do PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Por outro lado, é capaz de provocar um efeito colateral indesejado num momento em que começa a ficar evidente a crescente probabilidade de Dilma ter de enfrentar um segundo turno no pleito do ano que vem.

Razões para uma nova "faxina" na Pasta, comandada pelo PDT desde Luiz Inácio Lula da Silva, não faltam. A atual onda de denúncias já motivou a realização de uma série de reuniões de emergência sobre o assunto e chegou a provocar queda do agora ex-secretário-executivo Paulo Roberto Pinto.

Trabalho mal feito ameaça propaganda de Dilma na eleição

Em 2011, Dilma valeu-se das denúncias publicadas pela imprensa sobre desvios de recursos por servidores do órgão na execução de convênios com entidades privadas para livrar-se de um auxiliar indesejado. O então ministro, Carlos Lupi, permanecera à frente da Pasta a pedido de Lula.

O pedetista lutou. Num esforço retórico, bradou que só deixaria a Esplanada dos Ministérios "abatido a bala". Por fim, não suportou a pressão. Demitido do cargo, retornou à presidência do PDT.

Desfechos semelhantes envolvendo outros ministérios repercutiram bem junto à sociedade. Em 2011, tal comportamento rendeu a Dilma pontos que engordaram o seu desempenho em pesquisas de avaliação e intenção de voto. O governo federal passou praticamente incólume às notícias de corrupção divulgadas em 2012, mas o tema retornou com força à agenda nacional em 2013.

As manifestações iniciadas em junho catalizaram as críticas populares à falta de ética na política, as quais derrubaram a avaliação de governantes país afora ao lado de queixas pelo mau uso dos recursos e da falta de qualidade dos serviços públicos.

Agora, o surgimento de novas denúncias na atuação do Ministério do Trabalho, do mesmo gênero das antigas, cria dúvidas sobre a eficácia das medidas tomadas pelo governo Dilma desde 2011 para sanar as irregularidades e fechar as brechas para a corrupção encontradas na estrutura do órgão. Não deixa de ser legítimo indagar se o mesmo não estaria ocorrendo em outras Pastas que foram alvos da "faxina" realizada em 2011, como os ministérios da Agricultura, Turismo e Transportes.

Sobra pouco espaço para se colocar em xeque a credibilidade de parcela considerável das informações desta nova onda de denúncias envolvendo o Ministério do Trabalho. Elas se originam na Operação Esopo, desencadeada pela Polícia Federal no dia 9 de setembro com a ajuda do Ministério Público, Controladoria-Geral da União e Receita Federal. As apurações apontam que o esquema criminoso, operado por meio de uma organização não governamental, causou um prejuízo de R$ 400 milhões aos cofres públicos.

Apesar da infeliz frase do ministro do Trabalho, Manoel Dias, segundo a qual "irregularidades tem em qualquer lugar", não faltou-lhe solidariedade dentro do governo. A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, apressou-se a dizer que as relações com o PDT não ficariam abaladas. Ex-senadora, Ideli aspira retornar ao Congresso Nacional e não pode desprezar o apoio do PDT em âmbito local. Quando disputou o governo de Santa Catarina em 2010, Manoel Dias ocupava a vaga de vice numa chapa adversária.

Na sequência, foi a vez do chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República. Gilberto Carvalho destacou a "seriedade" de Dias, e lembrou que grande parte dos convênios em execução no Ministério do Trabalho não foi assinada durante a gestão do atual ministro. Não bastasse, a própria Dilma reforçou a defesa do subordinado. Em entrevista a jornais do Sul, a presidente argumentou que Manoel Dias tem pouco tempo de governo e não há até agora motivos para suspeitar de sua atuação.

Manoel Dias tomou posse em março em substituição a Brizola Neto. Sua nomeação foi outro sinal da movimentação do Palácio do Planalto para assegurar a manutenção do PDT na base aliada. Embora mais próximo de Dilma, Brizola Neto não contava com o apoio da maior parte de seu partido, especialmente do chefe, Carlos Lupi. Em contrapartida, Dias é fundador do PDT e, embora não tenha Brizola no nome, foi secretário dele e apadrinhado por Lupi.

Não são apenas detalhes da biografia do titular do Ministério do Trabalho. Antes de filiar-se ao PT, Dilma ajudou a fundar o PDT no Rio Grande do Sul, integrou o grupo político de Brizola e mantém uma relação diferenciada com seu antigo partido. Atualmente, Dias é o secretário-geral do PDT. Terá, portanto, um papel estratégico na definição do posicionamento da legenda em 2014.

A experiência cotidiana ensina: a faxina é uma atividade que, se realizada de forma isolada, não assegura a permanente eliminação do pó, bolor e seres que fazem da sujeira seu habitat natural. Sob o risco de ser punida pelos locadores do Palácio do Planalto - o eleitorado - com a não renovação do contrato de permanência no imóvel por mais quatro anos, Dilma não deveria dar espaço às críticas de que não tem mantido limpo o Executivo. No Ministério do Trabalho não foi dada a devida sequência à faxina de 2011.

Fernando Exman é coordenador digital em Brasília.

Fonte: Valor Econômico

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