Executiva do PEN é composta por mulher, dois irmãos e um filho do fundador; ex-senadora rechaça a filiação
Ex-deputado cogita 'demitir' companheira para abrir espaço a grupo de marineiros, que tenta criar a Rede
Paulo Gama
SÃO PAULO - Quando o presidente do PEN, Adilson Barroso, diz que está disposto a "tudo" para fazer com que Marina Silva dispute o Planalto pela sigla, talvez não esteja brincando.
Seu arranjo para atrair a ex-senadora prevê tirar a própria mulher de um cargo-chave na Executiva Nacional para acomodar o grupo de marineiros.
Ele diz, porém, que a "demissão" de Rute não deve provocar brigas: ela foi colocada no posto de secretária-geral para que o ex-deputado estadual pudesse negociar espaço na sigla "sem resistências".
Rute não é a única parente de Barroso na Executiva do PEN, o nanico Partido Ecológico Nacional, formado em 2012. O grupo tem ainda dois irmãos e um filho do ex-parlamentar --"Deste eu não abro mão, é meu herdeiro político". Os cargos vão da tesouraria à vice-presidência.
Para Barroso, a diretoria familiar não é problema. "Hoje são só esses, mas fundei o partido com [parentes em] mais da metade da Executiva." Uma irmã já foi substituída.
Desde a criação, o PEN recebeu R$ 814 mil do fundo partidário. O partido fechou 2012 com R$ 292 mil de saldo positivo em suas contas.
Com o risco de que a Rede Sustentabilidade, partido gestado por Marina, não seja criada até sábado, prazo limite para que ela possa disputar a Presidência em 2014 pela nova legenda, Barroso ofereceu-lhe o PEN, hipótese refutada pela ex-senadora. O ex-deputado diz ter marcado conversa com marineiros na quarta-feira, véspera da última sessão do Tribunal Superior Eleitoral antes do prazo final.
O PEN demorou seis anos para reunir as 492 mil assinaturas necessárias para a formalização. Começou a ser criado em 2006, quando Barroso perdeu a reeleição para a Assembleia Legislativa de São Paulo e foi alijado do PSC.
"Para conseguir as assinaturas, eu chegava nas lideranças locais e dizia: Se você cumprir as metas de abaixo-assinado, você será o presidente. Se não cumprir, mas se empenhar, será grande, mas não o presidente. Foi com esse discurso, sem nenhum centavo no bolso, que eu formei o PEN", relata.
A tática de trocar a presidência de diretórios por lotes de assinaturas contraria o que defende a Rede. "É por isso que estão montando 90 partidos no país e [ela] não consegue." Ainda assim, ele diz que "o PEN é a cara da Marina".
O enxuto programa da sigla registrado na Justiça Eleitoral é econômico nas menções ao ambiente --são três em um texto de uma página.
No site do partido, o programa é substituído pelos "Dez mandamentos para um crescimento sustentável", com mensagens como "seja amigo da natureza", e o marketing ecológico se une a mensagens cristãs. Apesar disso, Barroso --que, como Marina, é evangélico da Assembleia de Deus-- diz que o partido não tem caráter religioso.
Fonte: Folha de S. Paulo
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