Sua simples presença na abertura da sessão legislativa do Congresso Nacional dá a medida do desespero de Dilma Rousseff diante da enorme encrenca em que ela própria colocou o País. Mas nem o “gesto de humildade” destacado pelo ministro Jaques Wagner nem a “excepcionalidade do momento” apontada pela própria presidente foram suficientes para mudar o comportamento de Dilma. Predominou no discurso vazio a irremediável incompetência que mantém a criatura de Lula longe de ideias novas capazes de tirar a política e a economia do impasse. De fazer, enfim, aquilo para o que foi eleita: governar o País.
Como se estivesse num palanque, a presidente da República não pronunciou nem sequer uma palavra que sugerisse autocrítica diante do desastre que protagonizou e se limitou a desfiar velhas promessas não cumpridas e a apresentar as mesmíssimas ideias que o governo vem apresentando sem que lhe ocorra transformá-las em projetos e em realidades, como a reedição da famigerada CPMF – que lhe valeram repetidas vaias.
Satisfeita com as aparências de poder proporcionadas pela liturgia do cargo que ocupa, Dilma continuará cumprindo uma agenda de eventos que lhe garantam visibilidade e a distraiam da angústia de ser a mais impopular presidente da história da República, ameaçada de ter o mandato cassado. Mas nenhum truque de marketing a fará recuperar a credibilidade – e esta é a questão essencial – que jogou no lixo com as mentiras da campanha da reeleição e com a enorme incompetência que se esmerou em demonstrar no tempo em que está no Planalto.
Com o ruidoso apoio de uma claque liderada por uma dúzia de seus ministros, à frente o lulista Jaques Wagner, Dilma Rousseff caprichou nas referências simpáticas ao Parlamento: “Conto com o Congresso Nacional para podermos, em parceria, estabelecer novas bases para o desenvolvimento do País, sem retroceder nas conquistas obtidas nos últimos anos”. Ou seja, ela quer o apoio dos parlamentares para as medidas necessariamente impopulares que estabelecerão “novas bases para o desenvolvimento”, mas não ousará mexer nas “conquistas obtidas nos últimos anos”, até porque esse retrocesso já está sendo provocado pelo aumento descontrolado da inflação e do desemprego. Qual a credibilidade que Dilma tem para pedir humildemente a ajuda dos parlamentares na luta contra a crise econômica, se ela própria se recusa a admitir sua enorme parcela de responsabilidade nesse desastre e a adotar medidas de rigorosa austeridade que mostrem aos agentes econômicos e aos brasileiros em geral estar ela disposta a liderar o esforço de recuperação nacional? Mas dela só se ouvem exaltações a suas próprias políticas – e palavras de condenação a fatores exógenos que não determinaram a crise.
Pois é a completa falta de credibilidade da presidente – aliada ao pânico que medidas impopulares provocam nos parlamentares em anos de eleições – que torna praticamente impossível que o governo petista possa vir a contar com a reedição da CPMF para suprir as necessidades de caixa do governo. A volta, mesmo que temporária, do “imposto do cheque”, seria uma gambiarra destinada a quebrar o galho numa situação de emergência.
Trata-se de um tributo de péssima qualidade, que incide em cascata sobre cada etapa da atividade econômica. É uma aberração, que transforma os simples atos de pagar e receber em fatos geradores de obrigação tributária. Além disso, diante do descalabro deste governo, qual a garantia que os brasileiros teriam de que os bilhões arrecadados com a CPMF seriam destinados a ajudar no equilíbrio das contas públicas? Que garantia haveria de que esse dinheiro não seria usado para ajudar o PT a se afastar da borda do precipício eleitoral em que está?
Infelizmente, os fatos demonstram à saciedade que muitos agentes públicos em postos-chave da administração estão em seus cargos apenas para “fazer política” e não para atender ao interesse público. Não é à toa que PP e PMDB, dois grandes “aliados” do governo, são os partidos que têm o maior número de parlamentares envolvidos nas investigações de corrupção, mais ainda que o próprio PT.
A ida da presidente Dilma Rousseff ao Congresso foi mais uma oportunidade perdida – não por ela, mas pela Nação. Porque continuamos sem um governo capaz de nos tirar dessa profunda crise econômica, política e moral que resultou do lulopetismo.
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