domingo, 23 de junho de 2019

Bernardo Carvalho: Os homens fora do lugar

- Folha de S. Paulo / Ilustríssima

Um fio liga Quincas Borba a quem não vê nada de mais na suspeição de um juiz

Não basta estar mais ou menos resignado a viver num país de ideias fora do lugar para engolir um ministro da Justiça (este pelo menos com a desculpa de salvar a própria pele), mas também um ex-presidente ilustrado e velhos juristas conformados ao bolsonarismo, adiantando-se já na primeira hora para anunciar que não veem “nada de mais” na revelação de conluio entre um juiz e um procurador da República.

Quincas Borba, protagonista do romance de Machado de Assis e inventor de uma “filosofia” selvagem de inspiração darwinista e schopenhaueriana (a partir da qual o crítico Roberto Schwarzformulou o conceito das “ideias fora do lugar”), também soube adaptar o que parecia funcionar alhures à impropriedade das contingências locais.

Seu “humanitismo” anunciava a hipocrisia dos nossos ilustres contemporâneos. O oportunismo destes, como o de seus antepassados, com a desculpa renitente de um ideal incompatível com a prática, tenta vestir a desgraça local com as cores pálidas de um universalismo fajuto.

Se nossos ilustres contemporâneos não estão nem aí para a suspeição criada pelo conluio entre juiz e acusação, é simplesmente porque não podem se imaginar no banco dos réus. Continuam a se comportar no diapasão altivo da herança que esse mesmo conchavo escuso e antiético em princípio alega combater.

Se seguem sentindo-se imunes, só pode ser porque no fundo o objetivo do conluio não está nos fins que ele prega para atropelar os meios. Afinal quem desejaria correr o risco de ser julgado por um juiz associado à acusação?

A ideia fora do lugar, nesse caso, é a própria justiça. Nem é preciso dizer que as consequências são gravíssimas. É ilustrativa a declaração de Sergio Moro ao jornal O Estado de S. Paulo, tentando minimizar o efeito dos vazamentos: “Sei que tem outros países que têm práticas mais restritas, mas a tradição jurídica brasileira...”.

Traduzida nos termos do absurdo semidemente (porque interessado) do “humanitismo”, a frase redefine mais uma vez o sentido de igualdade entre nós: já que somos todos iguais (partes do mesmo), não existe parcialidade.

Quincas Borba concebeu um “sistema de filosofia para arruinar todos os demais sistemas” (parece que reconhecemos algo aqui): como no fundo somos todos partes de uma matriz comum (“humanitas”), as desgraças de uns se justificariam pelo bem dos outros. As injustiças e os flagelos a que alguns estão submetidos seriam meros “equívocos do entendimento”.

“Nasceu esse africano, cresceu, foi vendido; um navio o trouxe (...) com o único fim de dar mate ao meu apetite. (...) Pangloss (...) não era tão tolo como pintou Voltaire”, insiste Quincas Borba.

O “humanitismo” é o otimismo repaginado dos escravocratas, Pangloss sem a ironia de Voltaire, transportado para a nossa pobreza de espírito: o escravo não sofre propriamente; vive o prazer vicário do senhor. O deleite deste justifica o sacrifício daquele, porque no final das contas são “movimentos externos da (mesma) substância interior”.

A coisa fica ainda pior com o arremate de uma certa “teoria do benefício”, segundo a qual apenas o beneficiador consegue reter o sentido do seu ato. O beneficiado, uma vez terminada sua privação, volta ao estado anterior de indiferença. Conclusão: não vale a pena perder tempo com mal-agradecidos. Arremedo de filosofia, silogismo à brasileira, o “humanitismo” supõe que a igualdade seja de natureza metafísica, de onde conclui que as desigualdades reais são mera aparência.

Não é difícil seguir o fio que liga o raciocínio de Quincas Borba ao de quem não vê nada de mais na suspeição de um juiz. É a mesma lógica semidemente, agora na convicção de que a letra da Justiça pode valer como ideia, em algum lugar “mais restrito”, mas não aqui, terra de arbítrio, sofismas e inversões, onde as ideias são aceitas “por razões que elas próprias não podem aceitar” (Schwarz).

O desmonte do princípio de um contrato social republicano (que valeria apenas em lugares onde as práticas são “mais restritas”) é precisamente a base do círculo vicioso que fragiliza a sociedade e a lógica diante das investidas antidemocráticas. E o que leva a concluir que o conluio não se restringe a um juiz e a um procurador.

As ideias fora do lugar (afinal, aqui tudo é diferente, democracia não é exatamente democracia, fascismo não é exatamente fascismo etc.) permitem aos nossos ilustres contemporâneos apoiar homens errados em lugares errados, tomando decisões erradas que terão as piores consequências para todos nós.

Um comentário:

Vlasta Parkanová disse...

Quem quer que esteja lendo este testemunho hoje deve comemorar comigo e com minha família porque tudo começou como uma piada para algumas pessoas e outras disseram que era impossível. Meu nome é leonor e eu sou de lisboa, mas eu mudo para Chicago EUA com minha esposa. Estou feliz casado com dois filhos e uma linda esposa. Algo terrível aconteceu com minha família, perdi meu emprego e minha esposa deixou minha casa porque eu não podia cuidar bem de mim e da família. dela e dos meus filhos naquele momento em particular. Eu consegui por nove anos, nenhuma esposa para me apoiar para cuidar bem dos filhos. Eu tento enviar uma mensagem de teste para minha esposa, mas ela me impede de falar com ela Eu tento falar com sua amiga e seus familiares, mas ainda sei que alguém poderia me ajudar e eu tenho enviado o pedido mais tarde para tantas empresas, mas ainda assim Não me ligue, até que chegue um dia fiel que nunca esquecerei em minha vida. Quando encontrei um velho amigo meu a quem expliquei todas as minhas dificuldades e ele me contou sobre um grande homem que o ajudou a conseguir um bom emprego na empresa de coca cola e ele me disse que o seu um feitiço, mas eu sou uma pessoa que nunca acredita em conjuradores, mas eu decidi dar-lhe uma tentativa e seu nome é Drosagiede ele me instruiu e me mostrou o que fazer nestes três dias de almoço o feitiço. Eu sigo todas as instruções e faço o que ele me pediu para fazer bem. ele se certifica de que tudo correu bem e que minha esposa me veria novamente depois de um trabalho maravilhoso em Drosagiede. Minha esposa me chama com um número desconhecido e pediu desculpas e ela me disse que ela realmente sente falta de mim e nossos filhos e minha esposa voltar para casa. E depois de dois dias uma empresa que tenho enviado minha carta de agradecimento chamado, agora eu sou o gerente de companhia exemplar aqui nos EUA. Aconselho-o se tiver algum problema envie uma mensagem para este email: doctorosagide75@gmail.com e obterá o melhor resultado. Tome as coisas como garantidas e isso será tirado de você. Eu te desejo o melhor.