Grupo de 2.153 bilionários tem mais riqueza que 4,6 bilhões de pessoas, diz Oxfam
Por Daniel Rittner – Valor Econômico
Davos (Suíça) - Um grupo de apenas 2.153 indivíduos no mundo com patrimônio superior a US$ 1 bilhão detém mais riqueza do que 4,6 bilhões de pessoas, o equivalente a 60% da população global, conforme indica um novo levantamento da rede de organizações não-governamentais Oxfam. O estudo chega à conclusão de que o número de bilionários dobrou na última década e a desigualdade econômica está fora de controle.
“Os 22 homens mais ricos do mundo detêm mais riqueza do que todas as mulheres da África”, compara a Oxfam no relatório, lançado horas antes da abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos. Para ilustrar o “grande fosso” de renda, há uma ilustração: se alguém tivesse juntado US$ 10 mil por dia desde que as pirâmides do Egito começaram a ser construídas, teria hoje só um quinto da fortuna média dos cinco maiores bilionários do planeta. Enquanto isso, quase metade da população global sobrevive com menos de US$ 5,50 por dia.
O estudo renova as discussões sobre concentração de renda e desigualdade, que estiveram no topo da agenda durante todo o ano passado, com manifestações espalhadas pela América Latina, além de protestos na França e no Líbano. Muitos atos, como no Chile, desaguaram em crise política.
Especulações em torno da tributação das fortunas brotam do diagnóstico. No período entre 2011 e 2017, os salários médios nos países do G-7 tiveram alta de 3%. Já os dividendos para acionistas cresceram 31%. De acordo com o levantamento, apenas 4% das receitas tributárias globais provêm da taxação de fortunas e os “superricos” conseguem evitar até 30% de imposto por meio de evasão fiscal.
O novo relatório da Oxfam propõe ainda olhar as questões de gênero como um dos combustíveis, segundo as palavras dos autores, que alimentam essa engrenagem: as mulheres fazem mais de 75% de todo trabalho de cuidado não remunerado do planeta. Frequentemente elas trabalham menos horas em seus empregos ou têm que abandoná-los por causa da incompatibilidade horária com o cuidado.
Em todo o mundo, 42% das mulheres não conseguem um emprego porque são responsáveis por todo o trabalho de cuidado - entre os homens, essa proporção é de 6%.
“Milhões de mulheres e meninas passam boa parte de suas vidas fazendo trabalho doméstico e de cuidado, sem remuneração e sem acesso a serviços públicos que possam ajudá-las nessas tarefas tão importantes”, diz a diretora-executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia.
Quase simultaneamente à divulgação da rede de ONGs, o Fórum Econômico Mundial também publicou um estudo sobre mobilidade social que projeta ganho de até 4,4% no PIB global caso as economias dessem oportunidades iguais a seus cidadãos.
A lista dos dez países com maior mobilidade social no mundo é preenchida somente por europeus: Dinamarca, Noruega, Finlândia, Suécia, Islândia, Holanda, Suíça, Áustria, Bélgica e Luxemburgo. Os Estados Unidos aparecem em 27º lugar.
O Brasil ocupa a 60ª posição entre 82 nações e está no meio dos Brics. Os outros são Rússia (39ª), China (45ª), Índia (76ª) e África do Sul (77ª). Quatro aspectos foram analisados: salários, sistema de proteção social, condições de trabalho e educação continuada.
Curiosamente, o Chile - palco das maiores manifestações na América Latina - é o mais bem posicionado da região: 47º lugar.
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