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Seu afastamento ainda demora
Sentiu falta da sessão fim de tarde onde o ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, disserta por horas sobre o combate ao coronavírus, alerta para a tragédia que se avizinha, e mesmo assim conforta o país e mostra que está no comando?
É possível que a sessão volte a se repetir hoje e nos próximos dias, mas com um Mandetta muito mais tutelado pelo presidente Jair Bolsonaro que, embora tenha dito, ontem, que a vida das pessoas está em primeiro lugar, preocupa-se de fato com a Economia.
A frase dele foi esta, uma pérola de ambiguidade:
“A vida das pessoas em primeiro lugar. Mas a dose do remédio não pode ser excessiva de modo que o efeito colateral seja mais danoso que o próprio vírus”.
Beleza, não? Pena que faltou a Bolsonaro originalidade, uma vez que o presidente Donald Trump havia escrito no Twitter algumas horas antes: “Não podemos deixar que a cura seja pior do que o problema”. Mais ambíguo impossível. Porém, mais conciso.
Trump conta com melhores redatores de frases e de discursos. Os de Bolsonaro são ruins. Falta-lhes imaginação. De resto, Trump domina bem o inglês e é um razoável orador. São conhecidas as dificuldades de Bolsonaro com o idioma e as ideias.
Ainda sob o efeito da recente pesquisa do Instituto Datafolha, que conferiu que a aprovação a Mandetta é maior que a dele, Bolsonaro reuniu-se eletronicamente com governadores do Nordeste e anunciou a liberação de 88 bilhões de reais para os Estados.
Depois promoveu o general Braga Neto, chefe da Casa Civil da presidência da República, à condição de coordenador de todas as ações do governo na guerra contra o coronavírus. O general falou em seguida. Quando chegou sua vez, Mandetta, digamos, miou.
Braga Neto era o chefe do Comitê de Crise criado por Bolsonaro há semanas. Mas para o público externo, era Mandetta que tinha o controle de tudo. Há poucos dias, quando Bolsonaro estreou o uso de máscara, Braga Neto entrou mudo e saiu calado da reunião.
Ciúmes, que decorrem de sua paranoia, e pontos de vista conflitantes. Eis porque Bolsonaro deu início à fritura do ministro da Saúde e valeu-se para isso de um general que tem horror à aproximação física com jornalistas e gosta de cultivar segredos.
O deputado Osmar Terra (PMDB-RS), ex-ministro da Cidadania, poderá suceder Mandetta no cargo. Em entrevista à TV Brasília, emissora local, revelou-se perfeitamente alinhado com Bolsonaro. Sua eventual escolha traria o PMDB de volta ao governo.
Brasil acima de tudo! Economia acima de todos! Deus pode esperar.
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