- O Globo
Jair Bolsonaro não se contenta em contar pequenas
lorotas. Suas mentiras são amazônicas. Têm o tamanho da maior floresta tropical
do mundo.
Ontem o presidente declarou que o bioma não está em
risco. “Essa história de que a Amazônia arde em fogo é uma mentira”, disse. No
mesmo discurso, ele fingiu ser um inimigo do desmatamento ilegal. “Nossa
política é de tolerância zero”, afirmou.
As duas frases são tão verdadeiras quanto a
conversão de Bolsonaro à democracia. Só em julho, o Inpe registrou 6.803 focos
de incêndio na região. Uma alta de 28% em relação ao mesmo mês de 2019.
Dados preliminares indicam que a devastação anual
aumentou 34%. Isso significa que o Brasil poderá registrar 13 mil quilômetros
de perda florestal, o pior resultado em 14 anos.
Desde a posse do capitão, o governo faz vista
grossa ao avanço das motosserras. O Ministério do Meio Ambiente foi entregue a
um político condenado por fraude ambiental. Ele desmontou os órgãos de
fiscalização, perseguiu servidores e tentou aproveitar a pandemia para “passar
a boiada” na legislação do setor.
Um de seus primeiros atos foi afastar o fiscal do
Ibama que multou Bolsonaro por pesca ilegal. O caso se repetiu com outros
servidores que tentaram combater a exploração predatória da Amazônia.
O capitão é ousado. Não se limita a mentir em
grupos de zap ou no curralzinho do Alvorada. Ontem ele recitou suas cascatas em
reunião com presidentes de quatro países, além de representantes das Nações
Unidas e do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Diante dessa plateia bem informada, disse que o
Brasil é difamado por ser uma “potência no agronegócio”. “E lamentavelmente
alguns poucos brasileiros trabalham contra nós”, emendou.
“Não faz sentido falar em complô contra o Brasil.
Esse discurso não se sustenta em fatos”, contesta o engenheiro florestal Paulo
Barreto, pesquisador associado do Imazon. Ele lembra que o país precisa
proteger a Amazônia para segurar investidores. “Hoje os fundos internacionais
estão preocupados com a sustentabilidade. Isso não é conversa de ambientalista,
e sim de capitalista”.
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