Bolsonaro
sempre surpreende, com a maldade intrínseca impregnada nas ações
Impressiona a capacidade com
que Jair Bolsonaro consegue
marcar, pelo obscurantismo, qualquer assunto em que intervenha.
Sejam os embates
internacionais contra a devastação da Amazônia,
seja a falta de compaixão pelas vítimas da pandemia,
ou mesmo o descaso agressivo com o futuro de milhões de estudantes de todas as
idades.
Sempre surpreende, com a
maldade intrínseca impregnada nas ações. Meteu-se numa hipotética luta
ideológica e tudo o que faz, nesta área, desanda antes de andar.
O Ministério da Justiça,
transformado em central salva-vidas para socorrer membros do governo que caem
nas garras da lei, está truncando seu papel. Sacrificou a posição de equilíbrio
e bom senso para voltar-se à administração da rede paralela de
Inteligência que o presidente reclamava.
A última arapongagem (quem
diria que tal termo iria voltar à moda 30 anos depois) foi fichar
antifascistas. O pretexto, para investigar quem está contra o governo,
pressupõe, no mínimo, que o presidente vestiu a carapuça. Sem juízo de valor, é
o que dizem as palavras.
A construção desta rede, a
maior criação de Bolsonaro até o momento, ainda em processo, vem acompanhada de
um conjunto de atos suspeitos: revogação de portarias de controle do mercado de
armas; estudos para controle direto das PMs; ampliação da Abin entregue ao
comando de alguém da sua confiança familiar; introdução de fortes tentáculos
pessoais na Polícia Federal; aprofundamento de um sentimento ambíguo com
relação ao Supremo Tribunal Federal: ora
quer destruir, ora dominar.
Tal descalabro tem interface
com a desastrada condução no Ministério da Saúde, que
Bolsonaro conseguiu reduzir a escombros.
Conforme o estilo, tenta
vincular o fracasso no combate à pandemia aos que imagina seus concorrentes.
Acuados pelo necessário isolamento, governadores e prefeitos não conseguem
reagir, nem mesmo para apontar as evidências. Que estão à mão, numa conta
simples: se 20 mil mortes estão na conta de um deles, 100 mil estão na conta de
Bolsonaro.
Desautorizou seus ministros,
tirando-lhes a chance de uma ação organizada e eficaz. Menosprezou e
acrescentou mais letalidade à pandemia. Como? Tornando-se garoto propaganda de
um remédio que, em lugar da cura comprovada, complica os tratamentos e aprofunda
os riscos. É estranho que o Ministério Público ainda não tenha investigado as
relações de Bolsonaro com a cloroquina.
Já a Educação, ministério
onde a ignorância bolsonarista acampou e domina, enfrentará o teste de um
terceiro titular. Que, desconhecido, precisa não só demonstrar competência como
fazer esquecer as asneiras dos antecessores. O MEC está
destruído, ali o recomeço é no ponto zero.
E, para completar, com a chegada
da temporada eleitoral, abre-se o espaço à corrida pelos palanques dos grotões.
Antes dominados pelos coronéis da política, foram fidelizados por Lula e,
agora, já batem continência para Bolsonaro.
É a nova vertente da mutação
do atraso. Tendo suas bandeiras populistas desfraldadas pela bolsa emergencial
de R$ 600, Bolsonaro percebe que falta dinheiro para mantê-las no mastro até as
urnas. E dá mais um grande passo atrás: aprova o novo imposto, que é o velho
imposto, condenado e extinto. Entrega-se à arrecadação fácil e preguiçosa da
CPMF.
Conduzindo-se em campanha em
tempo integral segue o presidente. Do alto da sela, na mesma perspectiva com
que antes animava seus incendiários, fanáticos apoiadores agora reclusos por
temor à Justiça, alguns até abrigados no exterior. Cederam lugar à ingênua
plateia dos palanques do interior. É o que se verá daqui para o fim do ano.
O governo fica onde está,
abandonado, como os brasileiros. E Bolsonaro sai em busca da construção de
novas ruínas.
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