- Folha de S. Paulo
Eles não
acreditam em cartões ou transferências; no máximo, cheques
No começo, você sabe, tudo
era dinheiro, desde uma vaca até um saco de sal.
Depois vieram as barras de
ouro, que, por muito pesadas, foram convertidas em moedas e, estas, em dinheiro
de papel. O qual, após longo reinado, converteu-se em cheques, cartões de
crédito e, agora, transferências digitais. A história do dinheiro é a da sua
progressiva redução a algo simbólico, imaterial.
Não para a família de Jair Bolsonaro. Seus membros são fiéis ao dinheiro de papel.
Transações que poderiam se realizar com um clique exigem, para eles, o trânsito
de um pesado volume de cédulas, de um bolso ou carteira para outro, além do
trabalho de contá-las. Um pagamento de R$ 100 mil constará de mil notas de R$
100, a serem conferidas umedecendo os dedos numa esponja ou, como eles devem
fazer, lambendo-os.
Flávio Bolsonaro, então deputado estadual, comprou em
2008 várias salas num centro comercial do Rio por R$ 86,7 mil em dinheiro vivo,
que pediu emprestado ao pai, a um irmão e a um assessor do pai, enfiou numa
sacola e levou ao caixa do banco. Em 2011, sua mulher, Fernanda Bolsonaro, foi
agraciada com depósitos de R$ 89 mil igualmente em espécie por seu generoso
ex-motorista Fabrício Queiroz, depósitos de que Flávio,
marido distraído, disse que nunca ficou sabendo.
Em 1996, Rogéria Bolsonaro,
primeira mulher de Bolsonaro, comprou um apartamento em Vila Isabel, à vista e
com dinheiro vivo, por R$ 95 mil. Anna Cristina Valle, segunda mulher de
Bolsonaro, também comprou 14 imóveis no Rio entre 1998 e 2008, num total de R$
5,3 milhões, boa parte em dinheiro. Diante disso só se pode elogiar Michelle Bolsonaro, atual mulher do homem —pelo menos
os R$ 89 mil que caíram em sua conta entre 2011 e 2016, cortesia idem de
Queiroz, foram em cheque.
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