Ver
os repórteres em ação nas eleições americanas é um espetáculo instrutivo
A sucessão
presidencial nos EUA tem oferecido um espetáculo instrutivo:
ver repórteres americanos em ação. Ao entrevistar
os candidatos ou assessores, eles não vacilam —um de cada vez,
disparam à queima-roupa uma pergunta de, se tanto, dez palavras. O entrevistado
não tem tempo para pensar. O ritmo da pergunta determina o ritmo da resposta. E
esta nem sempre é a que o entrevistado pensava dar.
Entre
nós, com respeitáveis exceções, é diferente. Nenhuma
pergunta leva menos de um minuto. É precedida de um introito
que esmiúça a questão, estende-se nos prolegômenos e sugere alternativas. O
entrevistado escuta com a maior atenção. Quando a pergunta parece estar
chegando à sua formatação final, com o esperado ponto de interrogação —“O que o
senhor diria disso ou daquilo?”—, o repórter, para arredondar, envolve-a com
duas ou três outras, que ele próprio responde, e só então cede a palavra ao
entrevistado. O qual já teve tempo para burilar seu discurso e adequá-lo ao que
sabe ser a forma ideal: falar sem dizer nada.
Bem,
essa é só uma variação. Há outra, não menos comum: a das duas ou três perguntas
feitas em sequência, cada qual sobre um assunto. Esse é o formato favorito de
todo entrevistado —permite-lhe responder apenas a última pergunta ou a que lhe
for mais conveniente. E, quando isso acontece, raramente se ouve uma
insatisfação com a resposta ou um repique. Fica por isso mesmo, como se o
importante não fosse a resposta, mas a pergunta.
Alguns
entrevistados se dão ao trabalho de tentar responder a essa série de perguntas,
indo ao fundo da memória para se lembrar de qual tinha sido mesmo a primeira,
depois a segunda, a terceira etc. Mas só porque sabem que isso lhes garantirá
mais tempo de câmera.
Os
repórteres americanos podem aceitar como resposta um simples “Sim” ou “Não”. É
o que basta para, às vezes, até derrubar um presidente.
*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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