Em país ocupado
Pelo estrangeiro.
Sou marinheiro
Desembarcado;
Marcho na bruma
das madrugadas;
Mas-
Trago das águas
A substância
Da claridade.
DA CLARIDADE!
Sou o indefinido,
O inesperado
Viajante da tarde
nua,
Que uma dor
augusta comoveu ...
Tudo a renuncia,
Tudo
O que eu conservo
De altivo e puro,
Sob o meu manto
adormeceu.
Em outros tempos
e antigos
Plantei alfaces,
vendi craveiros,
Fui hortelão, fui
jardineiro;
E a escura terra
...
Terra
Dos meus
canteiros,
Sempre arqueava o
dorso
Ao gesto amigo
De minha mão.
Hoje
provo, na boca, um desgosto,
Hoje tenho, no sangue, um sinal
Que não foi e não
é das algemas
Da prisão da
Vida,
Nem do jugo da
Terra,
Nem do pecado
original.
Muito bem sei,
senhores,
Que sou um sonho
cravado na morte,
Que sou um homem
ferido no olhar ...
E que trago, bem
viva, entre as nódoas do mundo,
A mancha do meu
país natal.
Sou um homem
manchado de sombra
No sonho, no
sangue, no olhar,
Sou um homem
marcado ...
Em país ocupado
Pelo estrangeiro.
Mas esta marca
temerária
Entre a cinza das
estrelas
Há de um dia se
apagar!
Por isso é que me
amparo às mãos dispersas da noite ...
E pelos pés
difusos do vento é que marcho
Na bruma das
madrugadas ...
Trazendo das
águas a substância
Da claridade
E um cheiro manso
De manhã fria ...
Oh! Soledade!
Oh! Harmonia!
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