São as agruras do nosso presidencialismo que historicamente tem foco em personalidades, líderes carismáticos, e não em partidos e programas. Isso é agravado pela fragilidade do sistema partidário brasileiro e por nosso sistema eleitoral. A falta de ligação orgânica entre parlamentares e sociedade e de controle social sobre a atividade parlamentar têm aí sua raiz. O nosso sistema eleitoral, original e único, produz a dissociação entre o exercício parlamentar e a sociedade.
Não adianta eleger um líder carismático
e/ou populista, sem sustentação parlamentar. Jânio, Collor e Dilma sofreram os
efeitos da falta de apoio no Congresso. Bolsonaro teve que se render ao
Centrão, tão criticado por ele e seus seguidores. No parlamentarismo, tudo é
mais fácil. Tivemos dois exemplos recentes em Portugal e na Alemanha.
Aqui, no Brasil, não. As eleições para
deputados e senadores não está conectada umbilicalmente à do presidente da
República, que eleito terá que construir maioria, sempre precária. Tivemos um quadro
partidário mais efetivo de 1946 a 1964, com o PSD, a UDN e o PTB organizando o
jogo de poder. Assim como no bipartidarismo vigente no período autoritário com
Arena e MDB. A partir da redemocratização, em 1985, prevaleceu o
presidencialismo de coalizão. Isto foi inicialmente implodido por Bolsonaro.
Agora, com mais de 30 partidos registrados no TSE, 24 dos quais representados
no Congresso, a governabilidade e a qualidade da governança ficam sempre
ameaçadas.
Portanto, há que se prestar mais atenção no
voto nos parlamentares e valorizar a melhoria da qualidade da representação.
Grosso modo, há 5 tipos de parlamentares. Primeiro, os que chegam ao Congresso
pela utilização do poder econômico. Em segundo, as celebridades: artistas,
esportistas ou campeões das redes sociais. Em terceiro lugar, temos os
representantes de corporações ou setores sociais organizados. Em quarto, os
parlamentares de base municipalista eleitos com apoio de prefeitos, vereadores
e lideranças locais. E, por último, o cada vez mais raro, deputado de opinião,
como foram no passado Gabeira, Alfredo Sirkis, José Serra, Genoíno, Paulo
Delgado e Sérgio Miranda. Claro, que toda tipologia tem falhas. O parlamentar pode
combinar mais de uma característica das descritas.
O fundamental é que estejamos atentos, mais
do que nunca, ao nosso voto em deputados e senadores. As grandes mudanças
necessárias dependem da qualidade presente no Congresso Nacional. É preciso
construir, já nas eleições, uma maioria inspirada nos interesses nacional e
público. O futuro Congresso será o espelho da soma de nossas opiniões
individuais.
*Marcus Pestana, Presidente do Conselho
Curador ITV – Instituto Teotônio Vilela (PSDB)
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