O Globo
O Brasil é um país em compasso de espera.
Seguimos aquém do nosso potencial, marcados por abissal desigualdade e racismo
O Brasil é um país em compasso de espera.
Seguimos aquém do nosso potencial, marcados por abissal desigualdade e um
racismo que atravessa estruturas e instituições, sem conseguir projetar os
caminhos para um desenvolvimento social, ambiental e econômico consistente,
justo e adequado aos parâmetros do século XXI. Educação é variável chave para
resolver essa equação.
Nesta coluna inaugural cito alguns
trabalhos de economistas que se dedicaram a investigar a relação entre
educação, desenvolvimento social e o crescimento econômico, sem pretensão de
esgotar o debate que atravessa vários campos de saberes.
Em artigo de 2009, Eric Hanushek e Ludger
Woessmann apontaram que maiores níveis de escolarização e da qualidade do
ensino — medidos no Pisa, exame internacional da OCDE — geram maior crescimento
econômico.
Em 2018, quando esteve aqui, Hanushek estimou que se todos os jovens completassem o ensino médio com qualidade, o PIB brasileiro seria elevado em 16%, e os salários médios seriam 30% maiores.
Investimentos que garantam a permanência na
escola e uma educação com altas expectativas e qualidade para todos geram
retornos além dos mensurados em testes ou indicadores econômicos.
Estudos de James Heckman, Nobel de Economia
em 2000, e de vários pesquisadores demonstram que programas bem desenhados e
implementados para a primeira infância têm impacto duradouro em toda a vida
adulta, reduzindo taxas de criminalidade e gravidez precoce não planejada e
aumentando a conclusão do ensino médio, empregabilidade e a renda do trabalho.
Considerando esses impactos mais amplos,
Ricardo Paes de Barros e coautores estimam que o Brasil perde R$ 214 bilhões
por ano por causa da evasão escolar. Naércio Menezes Filho e Luciano Salomão
mostraram que cidades em que mais estudantes completam o ensino médio com
melhores notas no Enem apresentam maior redução em homicídios entre jovens,
aumento de matrículas no ensino superior e geração de empregos para essa faixa
etária.
Mais ainda, a educação tem enorme potencial
de redução da pobreza e das desigualdades, como indicam diversos estudos de
Esther Duflo e Abhijit Banerjee, Nobel de Economia em 2019.
Vale lembrar que, além dos retornos
econômicos e sociais, a garantia de educação de qualidade para todos é um
direito constitucional. E na quadra atual — marcada pelo aumento da
desigualdade interna e entre países; pela expansão de movimentos e governos
autoritários que põem em xeque a democracia; pelo crescimento de movimentos
anticiência; e pelos desafios da emergência climática e ambiental — trata-se
também de um imperativo ético.
Nesse sentido, Amartya Sen, Nobel de
Economia em 1988, vincula a expansão das liberdades substantivas e das
capacidades individuais às possibilidades concretas de desenvolvimento. Ao
propor uma visão de “desenvolvimento como liberdade” indica caminhos
transformadores e opostos aos modelos que percorremos em nossa História, mais
marcada pelo que eu denominaria de desenvolvimento como exclusão.
Nossas recorrentes opções pelo crescimento
econômico esvaziado de sentido humano e dissociado do compromisso com a
equidade, a mobilidade social e a responsabilidade socioambiental colocam a
sociedade brasileira em estado de suspensão, na condição de um eterno vir a
ser.
Sem uma educação que garanta o
desenvolvimento pleno e integral dos estudantes, com as competências
cognitivas, socioemocionais, morais e éticas aderentes aos desafios da
sociedade contemporânea do conhecimento, consolidaremos uma restrição
estrutural das potencialidades não só dos indivíduos, mas também do país.
Não podemos seguir negligenciando a
educação, nem permitindo que o Brasil reproduza suas desigualdades, com
concentração de oportunidades e a naturalização do abandono dos vulneráveis.
Decidir como será a nossa educação
significa decidir também quem queremos ser e aonde queremos chegar. É a partir
da garantia de uma educação de qualidade — e qualidade só faz sentido se for
para todos — que teremos melhores cidadãos e profissionais, um ambiente
politicamente mais estável e maduro, socialmente mais virtuoso e criativo, e
economicamente mais dinâmico e produtivo.
A mudança é urgente e só vai acontecer a
partir de um grande esforço coletivo pela educação. Iremos nos engajar? Como
vamos colocar energia, talento e recursos nessa transformação?
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