Folha de S. Paulo
Fracasso nas urnas deve empurrar Bolsonaro
a não reconhecer resultado
Os números do Datafolha mostram que o pacote
de estelionato eleitoral aprovado com o esdrúxulo apoio da oposição
ainda não foi capaz de alterar o panorama eleitoral. Lula
está 18 pontos percentuais à frente de Bolsonaro (contra 19 em junho).
Se a eleição fosse hoje, o petista teria chances de resolver a disputa já no
primeiro turno.
A eleição, porém, não é hoje. Penso que Bolsonaro deverá crescer mais alguns pontinhos, à medida que os pagamentos do Auxílio Brasil turbinado forem feitos. Não acredito, porém, que isso reverterá o favoritismo de Lula. A inflação, afinal, corroeu quase todo o poder de compra dos R$ 200 extras.
E um fracasso de Bolsonaro nas urnas deve empurrá-lo para seu plano B, que é o não reconhecimento dos resultados eleitorais, o qual pode ou não ser acompanhado de resistência violenta. Se não for, é choro de perdedor. Bolsonaro irá para casa ao fim do mandato e, sem as imunidades e foro privilegiado do cargo, poderá ser condenado a uma temporada na cadeia. Se houver resistência, estaremos diante de um golpe, cenário que alguns anos atrás eu consideraria impossível.
Como já escrevi aqui algumas vezes, nós
falhamos como sociedade quando não pressionamos a Câmara a abrir um processo de
impeachment contra Bolsonaro. Ainda assim, fico feliz ao ver que, agora,
setores relevantes da sociedade civil se
mobilizam pelo respeito à democracia. O problema é que, se a coisa for para
a batalha campal, Bolsonaro ganha. Ele tem mais simpatizantes armados do que as
forças democráticas.
Mas nem tudo está perdido. O que os signatários da carta pela democracia têm é um bom pedaço do PIB. Numa situação de ruptura constitucional, empresas poderiam deflagrar uma espécie de movimento de desobediência civil, deixando de pagar os tributos federais à Receita e depositando-os em juízo, o que criaria dificuldades para um governo que terá se tornado ilegal e ilegítimo.
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