O Globo
Jose Múcio agiu com habilidade para acabar
com o início de uma crise institucional
O que poderia ser uma crise institucional
com os militares, tudo indica, foi superado pela negociação levada a cabo pelo
futuro ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Tal negociação política,
paradoxalmente, objetivou justamente despolitizar a troca dos comandantes
militares, que inicialmente pretendiam demonstrar seu descontentamento com a
eleição de Lula antecipando seu afastamento do cargo antes da posse.
Mas o futuro ministro da Defesa agiu com habilidade e conseguiu esvaziar o movimento, tanto que Bolsonaro já nomeou o novo comandante do Exército, general Júlio Cesar de Arruda, escolhido pelo presidente eleito, que assumirá hoje interinamente. Havia o temor de que, ficando vago o cargo enquanto Lula não assumisse, Bolsonaro nomeasse um militar bolsonarista mais ferrenho, que pudesse criar problema na transmissão do cargo.
A Marinha, que se inclinava a antecipar
também a transmissão de cargo, agora marcou a posse do novo ministro, almirante
Marcos Sampaio Olsen, para o dia 5 de janeiro, dias depois da posse do novo
presidente. O atual comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Junior,
apontado como idealizador do protesto contra a posse de Lula, declarou que
jamais apoiaria uma aventura golpista no país.
Acredito que o ministro José Múcio
conseguiu esvaziar um início de crise. Não há mais aquela sensação de possível
afronta dos comandantes militares ao novo governo. Pelo menos, tudo indica que
não haverá um movimento combinado de repúdio ao novo presidente. Não quer dizer
que os militares no comando tenham mudado de ideia sobre Lula. Vários deles são
adeptos da tese de Bolsonaro de que ele não poderia ter disputado a eleição
presidencial por ter sido condenado em três instâncias da Justiça.
Significa apenas que, como o Alto-Comando
das três Forças foi contrário à antecipação da saída como forma de protesto
contra a eleição de Lula, os comandantes acataram a posição da maioria. A
decisão do comandante da Marinha, almirante de esquadra Almir Garnier, de ficar
até a posse de Lula é vista como potencialmente perigosa por alguns setores,
que temem que ele esteja preparando algum gesto de protesto no dia da
transmissão de cargo, antes prevista para hoje, como assegurou o futuro
ministro da Defesa. A decisão teria sido informada a ele pelo atual ministro da
Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira.
O anúncio parece ter irritado o almirante
Garnier, que definiu que ficaria até o fim do governo e passaria o comando já
sob a Presidência de Lula. Os militares próximos a ele acreditam que a decisão
não teve cunho político, mas a vontade de demonstrar que está no comando até o
fim. Dias atrás, na solenidade de saída do almirante Olsen do Comando de Operações
Navais para assumir o comando da Força, o atual e o futuro comandantes
encontraram-se, e o ambiente foi de confraternização.
Houve até momentos de descontração, quando
foram dadas salvas de tiros próprias de solenidade desse tipo. Uma barca
passava no momento, e muitos filmaram, o que propiciou o comentário de que
poderiam fantasiar que a Marinha estava atacando o Rio de Janeiro. Dito e
feito. Vídeos circularam nas redes sociais, e bolsonaristas divulgaram que a
manobra era o início da sublevação.
A desmobilização dos acampamentos em frente
a unidades militares pelo Brasil é o que mais preocupa neste momento, dias
antes das festividades de posse. Os comandantes militares consideram que o
presidente Bolsonaro deixou-os com esse problema para ser resolvido, quando
poderia ter orientado seus seguidores a se desmobilizar espontaneamente.
Já começa a haver negociações para que
saiam de maneira pacífica, mas, se não houver colaboração, os comandos
militares terão de pedir apoio das polícias militares nos diversos estados. Não
está previsto que as Forças Armadas, individualmente, atuem na desmobilização
de manifestantes, mas já existe a compreensão de que não é possível aceitar
tais agrupamentos indefinidamente.
As Forças Armadas só podem atuar
autorizadas pela Presidência da República em casos específicos, como Garantia
da Lei e da Ordem (GLO). O futuro governo está disposto a agir a partir do dia
1º, com as polícias militares estaduais. Diante dos últimos acontecimentos, com
a definição de que o atentado à bomba no Aeroporto de Brasília foi organizado
no acampamento em frente ao Q.G. do Exército, há razão de sobra para que as
Forças Armadas se dissociem desses atos terroristas.
2 comentários:
"Acredito que o ministro José Múcio conseguiu esvaziar um início de crise. Não há mais aquela sensação de possível afronta dos comandantes militares ao novo governo."
Pois é, artigo de opinião é isso. Eu acredito (se ele pode, tb posso, ainda q sem nenhuma fama) q é necessário disciplinar com rigor esses milicos, tipo pé na porta seguido de expulsão e nomeação de qq um q, nao se comportando, seria igualmente tratado.
O bozo abusou e humilhou os milicos (lembram da troca forçada dos comandantes por esses bolsonaristas q agora pensam q podem afrontar LULA?).
Mas o governo preferiu um caminho mais suave - o problema dessa rota é q os milicos não aprendem nada, fica parecendo anistia, e, num prazo variável, aprontarão de novo.
Nsse caminho mais longo e suave, LULA e Múcio sabem q precisam mudar a doutrina (ideologia) ensinada nos quartéis ou, ao contrário do Merval, a sensação de afronta voltará.
Passou da hora.
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