O Estado de S. Paulo
Lula aposta num governo do PT, que se inicia sob severas limitações
Não é uma frente ampla o que Lula montou
para governar. É um governo do PT que já começa limitado por duas severas
restrições, ambas de amplo alcance.
A primeira é de natureza fiscal e tem como
causa principal o horizonte político muito restrito do próprio Lula. Ele se
esforçou por conseguir uma licença para gastar – seu único foco inicial – e a
obteve a custo altíssimo: o Centrão enfiou na PEC de fim de ano enorme pressão
pela subida de gastos públicos.
O preço disso, nas contas de Marcos Lisboa e Marcos Mendes, é consumir de saída a “gordura” (que nunca existiu) para investir e antecipar o dilema entre juros altos ou carga tributária mais elevada. Suspeita-se que teremos os dois.
A segunda limitação está na clara intenção
de Lula de enfiar goela abaixo do mundo político um “ferrolho” composto pela
velha-guarda petista. As figuras simbólicas de Geraldo Alckmin, Simone Tebet e Marina
Silva não dispõem das forças necessárias (bancada, máquina partidária, peso
político individual) para se contrapor, caso pretendam, ao núcleo duro petista.
É bastante evidente que Lula ofereceu a
grupos políticos diversos a oportunidade de participação num governo cujo
número de ministérios já sugere grande dispersão de esforços (e enorme
dificuldade de coordenação), mas até aqui não parece têlos incluído na
formulação das grandes diretrizes. Se é que se pode falar disso no momento.
Hábil na arte da acomodação tática, Lula
não dá sinais por enquanto de entender uma frente ampla como agenda abrangente
que garanta num horizonte expandido condições de governabilidade melhores do
que compromissos de cargos e influências no atual amplo ajuntamento de grupos
políticos. A presença no desenho ministerial de posições antagônicas sugere que
tudo convergirá para o arbítrio “ad hoc” do líder – ou paralisia decisória.
Exemplo disso é o relatório da assembleia
de transição. Ela produziu diagnósticos de situações específicas acompanhadas
de sugestões setoriais comparáveis a uma “shopping list”, mas longe de comporem
um plano consistente de ação ordenado segundo uma “visão” (compartilhada ou não
por uma frente ampla de correntes políticas).
As ações de Lula até aqui sugerem que ele
superestima suas próprias habilidades e a “fortuna” (na definição de
Maquiavel). É comum agentes políticos acreditarem que alcançaram algo apenas
por si próprios, ignorando circunstâncias que pouco controlam.
É onde Lula parece estar no momento. Não parece reconhecer a correlação de forças diferente daquela de 20 anos atrás. Nem a natureza e amplitude da oposição social que enfrenta.
3 comentários:
Mas o comentarista racista e a soldo permanece o mesmo: valente nas intrigas e covarde nas análises da realidade
Luiz Carlos Azedo, no blog, hoje: "É difícil entender a tese de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ampliou o suficiente a coalizão de governo."
Waack, aqui e agora: "Não é uma frente ampla o que Lula montou para governar."
Óbvio q tão díspares opiniões somente são explicáveis pela ideologia dos articulistas.
No mínimo depõe contra a seriedade desta "profissão" de articulista.
Minha amostra, 2 autores, é obviamente enviesada. Sabemos q os articulistas da grande imprensa são de direita na maioria, q não há equilíbrio. Infelizmente.
Azedo chegou mais perto do que é certo.
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