Folha de S. Paulo
Presidente tenta adiar desgaste e ameaça
ministro da Fazenda com nova derrota pública
Poucos fatores podem drenar a popularidade
de governantes e produzir problemas políticos como os preços dos combustíveis.
O gás de cozinha mais caro pressionou
FHC, a gasolina alimentou o mau humor de opositores com Dilma
Rousseff, o diesel jogou uma greve de caminhoneiros no colo de
Michel Temer, e Jair
Bolsonaro lutou contra as bombas durante a campanha à
reeleição.
Lula tenta adiar seu encontro com essa maldição. Assim que voltou ao Planalto, o petista prorrogou o corte de tributos sobre combustíveis —um explosivo deixado por Bolsonaro. A decisão contrariou a equipe econômica, mas o presidente preferiu fugir a todo custo de uma má notícia no primeiro dia de mandato.
O assunto voltou à mesa de Lula porque o
governo quer evitar uma escalada de preços quando a desoneração acabar, na
quarta-feira (1º). Depois de passar a campanha prometendo baratear os
combustíveis, o petista pretende desviar esse peso dos consumidores num momento
de inflação já pressionada.
O ministro Fernando
Haddad é contra esticar mais uma vez o corte de impostos,
que custa alguns
bilhões de reais por mês ao governo e atrapalha sua missão de
equilibrar as contas. Os conselheiros políticos de Lula argumentam, por outro
lado, que uma nova prorrogação é necessária para dar tempo à Petrobras de
adequar sua política de preços e amenizar o impacto nas bombas.
Voz influente nas decisões tomadas por
Lula, a presidente do PT disse que taxar os combustíveis agora seria
"penalizar o consumidor, gerar mais inflação e descumprir compromisso de
campanha". Em outras palavras, Gleisi
Hoffmann insinuou que a equipe de Haddad propõe uma medida que
causa prejuízos à população e danos políticos ao presidente.
A maldição dos combustíveis agora ameaça
Haddad. Não é pequena a chance de o ministro da Fazenda ser obrigado a absorver
uma derrota pública para a ala política do governo nesse embate, além de ter
que acomodar o custo da desoneração por mais dois meses.
Um comentário:
Lula está numa encruzilhada.
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