Folha de S. Paulo
Presidente devolve ao Brasil papel de voz
razoavelmente importante, mas raramente decisiva
A posição de Lula sobre
a Guerra
da Ucrânia começou muito ruim, refletindo um viés comum na esquerda
brasileira de um ano atrás. Embora o discurso sempre tenha sido de defesa da
paz, as críticas a Zelenski eram
mais frequentes do que as críticas a Putin, e
o quadro de referência conceitual parecia ser: "Se os Estados Unidos
apoiam um cara, nós apoiamos o outro".
Mas 2022 foi um longo ano, que mostrou que
o embate internacional atual é mais complexo do que isso.
Putin recebeu Bolsonaro quando o resto do mundo o tratava como lixo tóxico. Seu grande aliado na União Europeia, Viktor Orbán, é uma grande inspiração dos bolsonaristas. As posições anti-LGBT do governo Putin são muito populares entre os fanáticos de direita do Ocidente.
Ao mesmo tempo, a posição
de Biden e da União Europeia contra o golpe de Bolsonaro foi
importante para isolar os golpistas brasileiros. Em seu pronunciamento
à nação no final de 2022, Mourão reclamou de gente que pedia que o Exército
desse um golpe que "colocaria o Brasil em uma posição difícil diante da
comunidade internacional". Felizmente, não sabemos o que teria acontecido
com a democracia brasileira se Trump tivesse sido reeleito.
Não por acaso, Lula admitiu, durante sua
viagem aos Estados Unidos, que a invasão da Ucrânia foi "um erro
histórico".
O Brasil não deve se tornar aliado
automático dos Estados Unidos, mas ficou claro que há um conflito ideológico
sobre democracia que não apaga as disputas geopolíticas tradicionais, mas as
torna mais complexas.
A notícia de que Vladimir Putin estaria
avaliando a proposta de paz feita pelo governo brasileiro disparou os
gatilhos de sempre em nosso comentariado. Duvido que o ChatGPT não
conseguisse escrever 90% do que foi dito se você contasse para ele se gosta ou
não do Lula e mencionasse a palavra "Ucrânia".
Na verdade, o que Lula está fazendo é
devolvendo ao Brasil seu papel tradicional: uma voz razoavelmente importante,
mas raramente decisiva, de uma potência média, com alguma influência no Sul
Global e em fóruns multilaterais.
Ninguém, muito menos Lula, acha que Putin
ou Zelenski vão fazer alguma coisa porque o Brasil mandou. Mas a entrada de
cena do Brasil na negociação sinaliza que grandes potências estão procurando um
mediador, e o Brasil, que não tem conflitos geopolíticos com ninguém, é um bom
candidato para essa tarefa.
Parece novidade porque isso não aconteceu
nos últimos quatro anos, quando fomos governados por um maluco que: a) mentia
que o presidente da maior potência global havia roubado sua eleição, e
b) mentia
que a pandemia de Covid era uma conspiração da segunda maior potência global.
Se considerarmos a União Europeia como uma única potência (o que faria dela a
terceira potência global), foram quatro anos recusando
dinheiro para cuidar da Amazônia e xingando
a esposa do Macron.
Por menor que seja a capacidade de o Brasil
influenciar o conflito entre Rússia e Ucrânia, Lula faz bem em tentar exercer
qualquer influência que seja pela paz. Não só por idealismo, mas porque o
Brasil, como o resto do mundo, sofre com as consequências econômicas do
conflito. Garanto para você que, se não fosse pelo choque externo da guerra
sobre os preços, o debate todo sobre juros estaria transcorrendo com mais
tranquilidade.
3 comentários:
Erro histórico foi achar que uma potência nuclear iria aceitar passivamente que os EUA, através da OTAN, instalassem bases militares e mísseis nucleares na Ucrânia, a 5 minutos de Moscou.
O resto é mentirinha de uma mídia sabuja, que se nega a informar e a discutir seriamente a origem dessa guerra provocada, que poderia ter sido evitada, não fossem os interesses econômicos e militares que ganham com os conflitos.
Ei Demetrio Magnoli, aprende um pouco com esta coluna, e tenta escrever menos bobagem! Não gostar do Lula é um direito de qualquer cidadão, mas um colunista supostamente capaz de análises complexas não pode ser tão preconceituoso quanto Magnoli frequentemente se mostra.
Lula e sua importância mediana.
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