O Globo
Tolerância dá numa baita aceleração de
preços, exigindo remédio mais amargo (juros) para contê-la
Eis aqui alguns caminhos para o governo
Lula forçar o Banco Central (BC) a reduzir juros ou, simplesmente, para
infernizar a vida de seu presidente, Roberto Campos Neto, esperando que ele
jogue a toalha.
Primeiro, forçar a demissão de Campos Neto
por “comprovado e recorrente desempenho insuficiente”, como se diz na lei que
estabeleceu a independência do BC. Seria assim: o Conselho Monetário (CMN,
integrado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo próprio
presidente do BC) submete o pedido de exoneração ao presidente da República,
que o encaminha ao Senado. Por maioria absoluta (41 votos), o Senado pode
decretar a demissão.
Do ponto de vista técnico, não funciona. A
missão principal do BC é a estabilidade de preços, a ser obtida conforme o
regime de metas de inflação, que, de sua vez, segue regras públicas. O BC está
cumprindo. Mantém os juros elevados porque as projeções de inflação mostram
números bem superiores às metas. (Aliás, o pessoal do governo, da indústria e
do comércio tem dito que o BC pode reduzir a taxa básica de juros porque a
inflação está caindo. Mas não é esse o critério da lei: o que vale é a projeção
de inflação estar ou não na direção das metas.)
Mas, sabem como é, o Senado faz política. Querendo, arranja os argumentos para derrubar Campos Neto. Assim, Lula precisa buscar os 41 votos. No momento, não os tem. O presidente da República tem cargos e verbas para, digamos, convencer parlamentares. Mas sairia caro, com resultado duvidoso. Um eventual novo dirigente do BC teria de mudar a opinião de toda a diretoria — que tem votado com Campos Neto.
Passa-se à segunda possibilidade: mudar as
metas de inflação. Dá para fazer. É decisão do CMN, onde o governo tem a
maioria. A meta para este ano é 3,25%, tolerando até um teto de 4,75%. As
projeções do próprio BC sugerem que a inflação real vai a 5,8%, bem acima dos
parâmetros. Mesmo com a taxa básica de juros a 13,75%. Ora, se o CMN fixar uma
nova meta de, chutando, algo como 7%, para evitar surpresas, o BC poderia já
começar a reduzir os juros.
A coisa aqui está um tanto simplificada,
mas é por aí. Meta maior, juros menores. Portanto — e este é o ponto principal
—, para conseguir uma queda imediata do juro, é preciso aceitar que o Brasil
conviverá com inflação mais alta. É uma tese defendida por muitos economistas.
Diz que inflação tipo 2% a 3% ao ano é coisa para países desenvolvidos. Países
emergentes, do segundo time, poderiam conviver com bem mais.
Historicamente, a inflação nos emergentes
tem sido mais elevada. Mas é mais por pecado do que por virtude. E por razões
políticas. Em ambiente inflacionário, ganha mais — ou perde menos — quem tem
maior capacidade de ajustar sua renda mais rapidamente. Os preços no
supermercado podem subir todo dia. Os salários, mesmo quando reajustados
mensalmente, sempre perdem a corrida.
De todo modo, continua a tese “heterodoxa”,
um “pouco” de inflação é melhor que juros asfixiantes. É verdade que os juros
altos encarecem o crédito, diminuindo o apetite de consumidores e empresários.
Esfriam a economia. Mas o juro alto, por um determinado tempo, só se justifica
para obter o prêmio mais à frente: preços estáveis e inflação baixa, que
beneficia toda a população.
A tolerância com a inflação leva a uma
aceleração dos preços, especialmente no Brasil, onde há muita indexação. A
inflação de um ano será igual à do ano anterior, acrescida dos fenômenos de
alta do novo período. Ou: se a meta oficial é de 7%, os empresários colocarão
esse valor em seus preços, mais aumentos de custos específicos do negócio.
Já viram onde vai parar. Tolerância com um
“pouco” de inflação dá numa baita aceleração de preços, exigindo remédio ainda
mais amargo (juros na lua) para contê-la. É uma pena que ainda exista essa
discussão, depois de o Brasil ter passado por hiperinflação e por amplos
períodos de estabilidade. A comparação é fácil, não é?
4 comentários:
O passador de pano oficial... O que tem de gente gabaritada mostrando que o nível praticado de juros pelo BC pelo bolsonarista Bob fields está estrangulando a cadeia produtiva não é brincadeira. Agora vem esse sacripantas que repete as maiores idiotices para tentar diminuir a retardadice em apontar os juros x inflação e é isso. pqp como me dão espaço pra esse idiota ainda.
Perfeito.
O colunista assinou mais um atestado de imbecilidade.
Vc é um desonesto intelectual. Toma croroquina econômica, petista heterodoxo.
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