sábado, 27 de maio de 2023

Dora Kramer - Articulação decorativa

Folha de S. Paulo

Palacianos da política não se mexeram nas derrotas do governo Lula

O governo mal experimentou o gosto da fortuna e já voltou à trilha dos infortúnios. Quarta-feira (24) era dia de faturar o caminhão de votos na aprovação do novo marco fiscal na Câmara, mas o que se viu foi o embarque em duas batalhas perdidas: perdeu para o centrão e adiante vai perder no embate com a ministra Marina Silva (Meio Ambiente).

O êxito no dito arcabouço não foi obra do Palácio do Planalto, sabemos. Foi resultado da junção do realismo do ministro Fernando Haddad (Fazenda) com a esperteza do presidente da Casa, Arthur Lira.

Mesmo assim, o ambiente se prestava ao bater de bumbos. Seria um respiro, mas não deu tempo —o desacerto se impôs.

A proposta de reestruturação da Esplanada andou para o lado contrário do pretendido. Sem força para o enfrentamento, ao governo restou aceitar enfraquecer pastas caras ao PT e fortalecer outras ocupadas por partidos afeiçoados à centro-direita.

Aceitou-se a passagem do trator sobre o ministério do Meio Ambiente e se iniciou o que parece ser uma fritura de Marina Silva dentro e fora das fronteiras do Planalto.

Não foi à revelia do chefe que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, buscou diminuí-la dizendo que Lula é o "embaixador do meio ambiente do Brasil, não precisamos de outro". Mensagem clara sobre quem manda no jogo, a despeito do ganho pontual de Marina no embate com a Petrobras.

Desnecessário e arriscado. Se a ministra não tiver esquecido tudo e aprendido algo em sua desafortunada convivência com o PT, cedo ou tarde pedirá para sair. É indemissível, mas não é imune a humilhações.

Quanto à desfiguração da proposta original, o governo alega que aceitou perder um pouco para não perder tudo com a extinção de validade da medida provisória daqui a quatro dias. A MP foi editada em 1º de janeiro.

Nesse meio-tempo, os palacianos da política não se mexeram e, por essa e outras, são vistos como meros objetos de decoração.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Deu ruim e a culpa nem é do governo.