domingo, 16 de julho de 2023

Bruno Boghossian - Lula cultiva o antibolsonarismo

Folha de S. Paulo

Petista anda com imagem do antecessor no bolso apesar de inelegibilidade do rival

Nas últimas semanas, Lula chamou Jair Bolsonaro de titica, gângster, genocida, golpista, insano e outros insultos. Dias atrás, o petista foi ao congresso da UNE e disse que os quatro anos do antecessor foram uma amostra do fascismo e do nazismo.

Lula anda com a imagem do ex-presidente no bolso. O petista mantém a artilharia contra Bolsonaro em palanques, eventos oficiais e entrevistas. Lança críticas diante de plateias dispostas a fazer coro, como estudantes e integrantes do MST, e tenta salgar terrenos em torno de empresários e governantes estrangeiros.

Bolsonaro está fora das próximas eleições, mas Lula quer preservar o antibolsonarismo como força e medir seus efeitos no próximo ciclo.

A rejeição a Bolsonaro ajudou Lula a alcançar uma maioria em 2022. Derrotar o capitão e barrar o sonho golpista renovaram o fôlego da militância de esquerda, atraíram eleitores distantes do PT e forjaram uma rede ampla de defesa da democracia.

A intensidade do antibolsonarismo foi proporcional à ameaça que o então presidente representava. O ponteiro se mexe com o passar do tempo, a inelegibilidade determinada pelo TSE e os planos da direita.

Ninguém deveria precisar da ajuda de Lula para julgar Bolsonaro, mas o petista reage a um processo natural de decantação. O Datafolha mostrou em junho que 57% dos brasileiros consideram que o governo do ex-presidente trouxe benefícios para o país (metade dos mais pobres e 64% dos brasileiros na faixa intermediária de renda pensam assim).

Além de refrescar a memória do eleitor, Lula quer testar a capacidade de transferência da rejeição de Bolsonaro para seus afilhados. Numa cerimônia do governo no início do mês, o presidente cobrou pressa na conclusão de uma obra e alertou para o risco de "outra coisa ruim voltar" após o fim de seu mandato.

Mesmo com a inelegibilidade, o antibolsonarismo é inevitável porque a direita depende de Bolsonaro em cena. Além da lembrança do capitão, seu alcance também será determinado pelo desempenho de Lula.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Devia ter especificado que benefício Bolsonaro trouxe para o País.