Folha de S. Paulo
Parceria das Forças com bolsonarismo e
corrupção das tropas foi uma escolha política
O comandante do Exército fez um diagnóstico
benevolente do desgaste acumulado pela instituição. Preocupado com uma
crise de imagem, o
general Tomás Paiva emitiu uma ordem que promete vantagens às tropas e
fala em enfrentar o "desconhecimento, por parte da sociedade, das ações
desenvolvidas" pela Força.
Militares parecem interessados em usar apenas remédios suaves para enfrentar a degradação a que se submeteram nos últimos anos. Oferecem silêncio nos quartéis em troca de recompensas, tratam como casos isolados infrações em série registradas em seus quadros e deixam muita coisa sob o tapete.
A parceria simbiótica do Exército com
o bolsonarismo e
a corrupção institucional das tropas não foram acidentes. Foram uma escolha
política feita por generais graduados em posições de comando e por
representantes influentes da reserva, num processo que se deu à luz do dia.
Há cinco anos, essa irmandade decidiu
assumir um projeto eleitoral, ofereceu assessoria a um candidato e ameaçou
o tribunal que julgava seu rival. No poder, militares tiveram acesso
privilegiado aos cofres do governo, mergulharam em operações suspeitas,
serviram de veículo para intimidações, participaram de uma conspiração para
desqualificar uma eleição e deram guarida a um golpismo escancarado.
Esse projeto foi derrotado nas urnas e
reprimido por instituições capazes de conter riscos de uma ruptura. O resultado
não deve submeter os perdedores a nenhum revanchismo, mas é preciso contornar o
desejo do grupo de limpar a própria barra e encobrir responsabilidades.
Ainda que o atual comando do Exército tenha
prometido a punição de militares envolvidos em infrações, o que está em curso
tem cara de uma calculada operação de contenção de danos. A ideia de que
as Forças
Armadas são uma bomba que deve ser manejada com cuidado e precisa
ser abastecida com reajustes salariais e investimentos em nome da paz
é um conceito de pacificação para lá de deturpado.
2 comentários:
Muito bem!
MAM
Concordo.
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