O Estado de S. Paulo
O novo presidente argentino depende tanto do Brasil como o Brasil da Argentina
Sim, a América do Sul está passando por
“confusões e dificuldades políticas”, reconhece Lula. De fato, em 17 eleições
na América Latina realizadas desde 2021 só não houve alternância de poder
naqueles países com regimes ditatoriais como Venezuela e Nicarágua. Nesses não
teve “confusão”.
As “dificuldades políticas” às quais o presidente brasileiro se refere são provavelmente encontrar algum tipo de “eixo” de alinhamento especialmente dos países sul-americanos. Era, de fato, mais fácil nos idos do primeiro mandato de Lula, quando o grito popularizado por Chávez – “Alca al carajo” – simbolizava um desses “eixos de alinhamento”: oporse aos Estados Unidos.
Em parte devido às rápidas mudanças
geopolíticas, o eixo pela afinidade ideológica faliu. Lula assumiu insistindo
em “liderar” o subcontinente a partir desse tipo de alinhamento, o mesmo erro
cometido pelo antecessor Jair Bolsonaro.
Para o País, a sucessão de erros básicos de
política externa significa perda do que seria sua “liderança natural”. É o
maior território, a maior população, a maior economia, é vizinho de quase todos
na América do Sul. Virou superpotência exportadora de commodities agrícolas e
minerais, com e tem setores industriais de ponta. E o que registra ao seu redor
é um raro descompasso.
A vitória de Javier Milei na Argentina foi um
choque além da “confusão” de alternância de poder. Ela tirou imediatamente do
Brasil o protagonismo nas negociações com a
União Europeia sobre livre comércio, um
acordo sobre o qual há dúvidas concretas se Lula realmente o deseja. Nesse
contexto, projeta uma sombra espessa no Mercosul.
Mas o que ela sugere também, caso Milei leve
adiante o discurso eleitoral, é uma delicada situação para o Brasil no grande
jogo internacional. Pois ele pretende “realinhar” a Argentina em relação à
China – que ocupou o lugar antes do Brasil nas relações comerciais e grandes
projetos com o vizinho. E já obteve do presidente Joe Biden uma promessa de
estreitamento das relações, incluindo apoio à aliança ocidental no caso da
Guerra da Ucrânia.
É evidente a fratura nos Brics e no chamado
Global South, duas plataformas através das quais Lula vem tentando se projetar
nos grandes assuntos mundiais. O outro lado da moeda é o fato de que Milei
depende tanto do Brasil quanto o Brasil da Argentina que, no fundo, Milei está
“reabrindo” ao Brasil. Ou seja, há um enorme espaço para convergência de
interesses. Se Lula esquecer seus conselheiros internacionais do PT.
Nenhum comentário:
Postar um comentário