O Globo
Lula perdeu
tempo na segunda-feira ao responder às provocações do presidente argentino,
Javier Milei, mesmo sem citá-lo. Foi diplomaticamente elíptico, mas, mesmo
assim, era isso que Milei queria. O presidente hermano tornou-se uma ausência
relevante na reunião do Mercosul em Assunção. Sua
ausência teve peso superior a uma eventual presença. Para um presidente
performático, melhor negócio não há.
As relações do Brasil com a Argentina sempre
tiveram altos e baixos mas, pela primeira vez, numa das pontas está um
provocador interessado em tirar proveito do tumulto. Caso típico de fanático
sem causa.
O Brasil já se meteu nos assuntos argentinos impedindo que o ex-presidente Juan Perón descesse em Buenos Aires, em 1964. A Argentina, nos anos 1970, dedicou-se à tarefa impossível de barrar a construção da hidrelétrica de Itaipu. (As duas ditaduras só se entenderam quando colaboraram para sequestrar e assassinar brasileiros e argentinos.)
Lula respondeu a Milei com tintas de
cientista político, condenando o que chamou de “nacionalismo arcaico”. Gastou
seu latim. Guardadas as proporções, Milei precisa de um Lula, como Lula precisa
de um Roberto
Campos Neto.
Noves fora os aspectos pessoais da
dissidência de Milei, o Mercosul tornou-se uma bola de ferro presa ao tornozelo
da diplomacia brasileira. O bloco está estiolado a ponto de não conseguir
consensos para os comunicados conjuntos da rotina diplomática.
Desde o século passado, o Planalto persegue o
sonho de um acordo do Mercosul com a União Europeia. O profissionalismo
do Itamaraty consegue
manter viva uma negociação natimorta, mas a França não quer o acordo, e de nada
adianta chamá-la de protecionista. (Até porque Lula condena um “nacionalismo
arcaico” enquanto seu governo ergue barreiras contra os carros elétricos
da China,
protegendo montadoras septuagenárias.)
O Uruguai já
disse que pretende assinar um acordo comercial com a China. O Brasil não gosta
da ideia, mas ela parece a cada dia mais inevitável. Essa é uma questão
teoricamente relevante, mas as birras de Milei em torno do Mercosul são
ridículas. Ele bloqueia iniciativas de gênero, metas ambientais e até o
funcionamento de dois centros de estudos. Nada disso tem a menor importância,
pois os países continuarão funcionando (ou não) à revelia do bloco.
Há aspectos das relações entre a Argentina e
o Brasil que independem dos humores dos governantes. O pior que se pode fazer
numa situação dessas é fingir não polemizar, indo para condenações elípticas.
Se o Brasil prefere não cair nas provocações de Milei, deve honrá-lo com um
respeitoso silêncio. Afinal, se ele acreditava tirar dividendos de uma ida a
Balneário Camboriú para se encontrar com Jair Bolsonaro, deu com os burros
n’água.
Lula foi exaustivamente aconselhado a
esquecer Milei, mas sua compulsão falou mais alto, e ele acabou aceitando o
desafio para ensinar que acha “que quem perde não comparecendo não são os que
vieram, é quem não veio”. Essa lógica funciona para chefes de Estado
convencionais, coisa que Javier Milei não é. Sendo um provocador, ganhou não
indo à reunião do Mercosul e ganhará sempre que conseguir chamar atenção para
suas excentricidades.
4 comentários:
Justiça seja feita, em nenhum momento o presidente da Argentina Javier Miley mentiu em relação ao presidente Lula, disse que ele era corrupto e comunista Pura verdade Lula foi condenado a mais de 20 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro e a pouco tempo atrás bateu no peito e disse que tinha muito orgulho de ser comunista
Então não há por que o presidente argentino pedir desculpa
Só na cabeça de um provocador pode parecer verossimel taxar Lula de comunista …. Kkkkkkkkkk digno de um pitecantropo à “ la Gustavo Corção”
Verdade,Lula precisa ignorar Bolsonaro também.
Justiça seja feita ao ex-presidente Jair Bolsonaro: não foi ainda comprovado que ele é Genocida. É só incompetente, ladrão, golpista, mentiroso, apoiador da tortura, chefe de organização criminosa, ... A Justiça está sendo feita a ele: acusações (várias já feitas, outras em andamento), julgamentoS, prisão em breve!
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