Sem disparar um tiro, o
Presidente Donald Trump pretende acabar esse trânsito e decretar o fechamento
da fronteira dos EUA com o México. Começou por repatriar aqueles imigrantes, sobretudo,
da América Central (brasileiros também), considerando-os clandestinos, embora
vivam e trabalhem no país, mesmo sem "vistos”.
As lições vêm dos países
europeus, que se prontificam a ser solidários com os imigrantes, mas, sem
alarde, estão sempre expulsando gente. Por motivos políticos ou para
fugir das guerras, quase tribais, milhares de africanos e asiáticos são
despejados anualmente na Europa. Os cidadãos das velhas colônias francesas,
inglesas, holandesas e portuguesas acham-se no direito histórico de
transitarem, livremente, pelos territórios das ex- metrópoles. A política
de "portas abertas", defendida pelas s agências da ONU, sofre um
retrocesso, com os países limitando o abrigo ao fluxo crescente de imigrantes. França,
Itália e Alemanha tem tido muitos problemas comportamentos culturais e
criminais mesmo.
Nos Estados Unidos, a
questão não é bem a travessia da fronteira para trabalhar ilegalmente na terra
do Tio Sam. Na América Central a pobreza é endêmica e os salários nos EUA
compensam os riscos. A questão tornou-se tão trivial que deu lugar à
dezenas de gangues de fronteira explorando levas de imigrantes latinos,
oferecendo-lhes facilidades inexistentes, e cobrando deles valores quase
impossíveis de serem pagos. E aí começavam as atrocidades: violências, estupros
e crimes, contra e entre imigrantes, bem como subornos das autoridades
fronteiriças. Alguns foram cooptados pelo tráfico de drogas. Trump vem
cercando as fronteiras, com muradas, e dobrando o policiamento por ali.
Mas essa é uma questão
aparentemente menor. Fugindo de guerras, como as invasões russas na Ucrânia, ou
à procura de terras mais hospitaleiras, existem ainda grupos de pessoas que,
sem entender exatamente o processo, pulam mesmo de uma região para a outra,
como algumas etnias indígenas, os ciganos e povos asiáticos e africanos. As
migrações estão associadas a fatores econômicos, culturais, políticos, sociais,
naturais e criminais. O Brasil mesmo abrigou representantes de algumas organizações
criminosas italianas, chinesas e indivíduos condenados nos países de origem
como o sérvio Darko Geisler, o britânico Ronald Biggs, os italianos Paquino,
Gino Meneghetti Tomazzo Buscheta e outros.
No fluxo migratório não se
distinguem transgressores de migrantes empobrecidos No Brasil como os
nordestinos (Paus-de-arara ou Sem-terra) famílias inteiras deslocavam-se
do Nordeste, na década de 1950, para o Sul, fugindo das secas. O
migrante é, entretanto, um sujeito solitário, sem pátria, sem proteção e que,
pelas discriminações que sofre, e até injustiças, boa parte termina ajudando a
compor a população carcerária no Brasil. O Brasil é usado com passagem para
alguns desses fluxos migratórios As cadeias brasileiras sempre estiveram cheias
de imigrantes carregados de crimes, outros acusados de tráfico de drogas e até
de mulheres.
Confundindo os sentimentos humanitários
com a política "fake" e com o conveniente acolhimento de imigrantes,
na modernidade, as populações mais politizadas assustam-se mesmo é o uso
politicamente estratégico desenvolvidos por alguns governos para se
livrar das oposições e das responsabilidades com a cidadania. Ao mesmo tempo
uma carga, a imigração transformou-se numa arma política, sobretudo por regimes
ditatoriais. É uma forma usada para reduzir as pressões
oposicionistas e conspiratórias nacionais e até de livrar-se das demandas internas
por empregos, alimentos, remédios e outros serviços públicos. A
prática vem se institucionalizando, sem nenhum tiro, na medida em que se tenta
purificar ideologicamente regimes políticos. Sintomas disso podem ser encontrados
em países de partido único, quase sempre, expresso numa violência
intangível.
Na Venezuela de Hugo Chavez
e Nícolas Maduro, para livrar-se da oposição e reduzir a pressão
sobre seu governo, adotou-se um modelo, meio retórico, de ameaçar e
prender opositores, induzindo-os a deixar o País. Cerca de 5, 2 milhões de
venezuelanos fugiram para o Brasil e para a Colômbia. Na Nicarágua
aconteceu o mesmo. Copiaram Cuba Os expulsos politicamente foram buscar abrigo no
México (passagem) e nos Estados Unidos.
A Rússia, adotou uma
política migratória expansionista, incentivando a ocupação das fronteiras com
países vizinhos, e estimulando a sua vagarosa transferência para para dentro do
território alheio, até chegar as tais “autoproclamadas" República Popular
de Donetsk e República Popular de Luhansk, com o apoio militar do Kremlin. Com
essa estratégia invadiu também a Criméia. Há sinais evidentes dos interesses
russos em incorporar os mares de Azov e o Morto. Pode estar aí um novo problema
para os países do Cáucaso e dos Balcãs.
A hoje fantástica China, que
perdeu alguns territórios para a Rússia em guerras não muito distante, começa a
dar o troco. Com a população crescendo, a China passou a agir de forma
semelhante. Fornece trabalhadores para as cidades industriais da
região russa do Pacífico - que antes lhes pertenciam. Vladivostok inclusive.
Cerca de 60% das populações das cidades russas do Oeste siberiano são de
trabalhadores chineses. Daí a indecisão de Ji Jinping de ajudar a Rússia na
invasão da Ucrânia. No passado, trabalhadores chineses migraram para os EUA,
onde ajudaram na implantação das ferrovias ligando, hoje, o Leste e o Oeste.
Sem especificamente
motivações políticas, a Índia exporta mão-de-obra e até alguns cientistas para
os países ricos do Oriente Médio. De lá eles enviam parte dos salários as
famílias. Os "dekasseguis"(fora de casa) brasileiros fazem
isso também do Japão. A escravidão contrabandeou para o Brasil cerca de 5
milhões de africanos. Decorreu de uma política pública de imigração, primeiro
para substituir a mão-de-obra indígena, depois com o propósito de melhorar a
qualidade da força de trabalho. Com esses propósitos, o Brasil, o atraiu
alemães, franceses, italianos e até japoneses. Chegou a ir buscá-los nas terras
de origem. Cerca de 4,5 milhões de brasileiros vivem no exterior
(2023): 2 milhões nos Estados Unidos, 360 mil em Portugal, 254 mil no Paraguai.
O levantamento não distingue legais de ilegais, apoiados ou não nas teses do
Foro de S. Paulo. Enfim, o problema não é simples, politizá-lo é procurar confusão.
Nossos repatriados estão sendo despejados em Minas Gerais, à conta do
governador Zema.
*Jornalista e professor: autor de "AMERICANIDADE"
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