O Estado de S. Paulo
Se um partido perde a identidade e deixa de representar parte da sociedade, não há razão para preservá-lo
O vice-presidente Geraldo
Alckmin (PSB) considera importante a continuidade de partidos com história,
como é o caso do PSDB, pelo qual foi governador de São Paulo. A afirmação foi
atribuída a ele pelo ex-senador tucano José Aníbal em reportagem do Estadão. É
compreensível o sentimento de melancolia com o iminente desaparecimento da
sigla, prestes a se fundir com o Podemos.
O PSDB, tendo Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda e depois como presidente, estabilizou a moeda, implantou o tripé macroeconômico, consolidou o SUS, universalizou o ensino fundamental, livrou-se de estatais ineficientes, criou um programa de distribuição de renda e, não menos importante, ajudou a cristalizar o sistema democrático. Mas a influência e a identidade política do PSDB se dissiparam nos últimos anos.
Como Quincas Berro d’Água,
personagem de Jorge Amado, o PSDB já morreu uma vez e prepara-se para morrer de
novo. A primeira, a morte política, foi quando, depois de não conseguir evitara
reeleição de Dilma Rousseffe deter alguns de seus principais nomes envolvidos
em escândalos, parte da legenda resolveu flertar com o bolsonarismo,
abandonando o próprio histórico de aversão ao populismo e a comportamentos
autoritários. Figuras importantes do partido começaram a sair, o desempenho
eleitoral em municípios, Estados e legislativos decaiu e, em 2022, deu-se uma
disputa interna inútil pelo direito de disputar a Presidência. O PSDB passou a
ser apenas uma sombra do que era no seu auge. A segunda morte, simbólica e
proposital como a do “afogamento” de Berro d’Água depois de se atirar ao mar,
virá da incorporação com o Podemos. Seus líderes falam em recomeço, mas será
outro partido – com pinta e comportamento de Centrão.
O definhamento do PSDB
lembra o do Partido Liberal, que ao longo de parte do século 19 e início do 20
teve grande protagonismo no Reino Unido. Os liberais entraram em declínio
depois que enfrentaram uma profunda divisão interna durante a Primeira Guerra Mundial.
A partir de 1922, quando caiu seu último premiê, o Partido Liberal perdeu
membros para os concorrentes ou para agremiações dissidentes, até fundir-se na
década de 1980 a outro partido, dando origem ao Liberal Democrata, até hoje um
coadjuvante da política britânica.
Quando um agrupamento
político deixa de cumprir o papel de representar os interesses, as ideias e as
aspirações de uma parte da sociedade, não há razão para preservá-lo. Partido
não é museu.
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