terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Lula esperava mais da candidata Dilma

Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO


A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) termina o ano com um desempenho nas pesquisas de opinião abaixo daquele esperado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando resolveu promover seu nome à sucessão de 2010. Para o nível de exposição a que submeteu a ministra ao longo de 2008, o presidente esperava por alguma coisa mais robusta. Quase a metade dos brasileiros nunca ouviu falar de Dilma.

Alguns governadores mais próximos já haviam percebido o desapontamento do presidente. Mas na entrevista que concedeu no fim de semana ele deixou claro que espera por mais ação da ministra. Disse que ela dispõe do tempo e dos meios para se tornar conhecida. Só precisa ter disposição para usá-los. É o que Lula quer de Dilma, do PT e dos aliados.

Lula ainda tem na ministra da Casa Civil a candidata preferida para 2010. Além da predileção do presidente, Dilma já é o nome do PT mais bem situado nas pesquisas de opinião, mesmo vagando na faixa dos 10% das intenções de voto. Até para Lula, presidente popular, seria difícil começar tudo de novo em torno de outro nome, como demonstram as dificuldades para tornar Dilma conhecida e apresentá-la como a continuidade do atual governo.

Atualmente não existe no PT, no momento, um nome capaz de rivalizar com o da ministra. Havia, até bem pouco tempo, o do ex-ministro e deputado Antonio Palocci, na hipótese de o Supremo Tribunal Federal (STF) enviar para o arquivo a denúncia do Ministério Público Federal por quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Mas a crise econômica mudou a situação de Palocci no PT.

O PT engolia a política econômica de Palocci porque ela apresentava resultados, nos últimos dois anos, na forma de um crescimento econômico acima dos 5%. No ambiente de crise, com a desaceleração da economia, talvez recessão, o partido terá muitas dificuldades para aceitar as receitas ortodoxas do ex-ministro da Fazenda. O mesmo ocorre em relação aos aliados históricos do PT, como o PCdoB e o PSB.

Atualmente Palocci é o nome do PT ao governo do Estado de São Paulo, sempre na hipótese de escapar no Supremo. O deputado e ex-ministro da Fazenda tem apoio empresarial forte em São Paulo, pode fazer uma campanha com estrutura e servir de "âncora" para a própria candidatura de Dilma Rousseff no maior colégio eleitoral do país.

Mas Dilma precisa avançar em 2009 a uma velocidade maior que em 2008. A receita pública de Lula é que "ela precisa ter mais disposição para dar entrevista". Segundo o presidente, "assunto é o que não falta". Em conversas no Palácio do Planalto, Lula tem mencionado outros meios.

Em encontro recente com a bancada do PCdoB, Lula lembrou-se do caso Roseana Sarney, cujo nome, para as eleições de 2002, o então PFL trabalhara ao longo do ano anterior nos programas de televisão do partido.

Em pouco tempo ela chegou à casa dos 30% das intenções de voto, "um negócio impressionante", até ser abatida pelo "Escândalo Lunus" - como ficou conhecida a operação da Polícia Federal que apreendeu R$ 1,3 milhão, que seria destinado à campanha da pefelista, no cofre de uma empresa da família.

De acordo com a análise de Lula ao PCdoB, Dilma ainda não é candidata e nem apareceu como candidata a presidente da República. Quando isso ocorrer, e se for feito um esforço semelhante ao que o ex-PFL despendeu com Roseana, o presidente diz acreditar que o desempenho da ministra vai melhorar. Bastante.

Essa é uma decisão que tem de ser tomada logo pelos partidos. Mas o próprio PT não formalizou coisa alguma. Os aliados tradicionais como PCdoB e PSB olham para o quadro que Lula desenha, percebem claramente que Dilma é uma candidatura ainda em construção e se perguntam: e se essa candidatura não vingar, como, aliás, acreditam que até agora não vingou?

Se isso ocorrer, o campo lulista fica sem outra alternativa, porque embora vez por outra o presidente insinue que vai testar outros nomes, é com Dilma que ele anda a tiracolo.

O PCdoB vislumbra essa possibilidade como bastante plausível e vê no deputado Ciro Gomes a alternativa a ser apresentada pelo Bloco de Esquerda. Duas vezes candidato (1998 e 2002) Ciro tem "recall" e possibilidade de crescimento rápido nas pesquisas. Precisa ser lançado. O PSB, seu partido, acha que não é hora.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

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