segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Entrevista: "Comércio deve demitir 40% mais no 1º tri"

Sheila D"Amorim
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Depois de um final de ano dispensando trabalhadores em vez de contratar, como ocorre normalmente, o comércio iniciará 2009 com um aumento de mais de 40% nas demissões. E a situação tende a se agravar em fevereiro e março, segundo Roque Pellizzaro Júnior, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), entidade que tem 780 mil empresas filiadas. Com estoques até 30 dias além do necessário e a perspectiva de aumento da inadimplência, ele afirma que a tendência é reduzir funcionários e investimentos.

FOLHA -
Ao contrário do que ocorre tradicionalmente, o varejo fechou dezembro demitindo. Em janeiro haverá mais cortes?

ROQUE PELLIZZARO JÚNIOR - Dezembro foi um mês ruim no comércio. Demitimos 15 mil pessoas a mais do que contratamos. Nos últimos três anos, foi a primeira vez que isso aconteceu. Dezembro é o melhor mês para contratações no setor e, historicamente, em janeiro há demissão de temporários. Normalmente, 10% dos recrutados ficam com as vagas. O resto é demitido. Neste ano, a estimativa é que, se as empresas mantiverem 3% dos contratados, será muito.

FOLHA - Quantas pessoas deixarão de ser efetivadas?

PELLIZZARO JÚNIOR - Em janeiro de 2008, o comércio no Brasil todo demitiu 14,1 mil pessoas a mais do que contratou. Todo ano, o setor registra número negativo em janeiro. Em dezembro de 2007, tinham sido contratados 30,1 mil. Então quase metade foi aproveitada. Em dezembro de 2008, já tivemos redução de 15 mil em vez de contratações. Esse já é o nosso grande problema.

FOLHA - Esse é um indicador de ano ruim?

PELLIZZARO JÚNIOR - Em janeiro, sem dúvida, teremos um número de demissões maior. Demitiremos mais do que em janeiro de 2008 porque o aproveitamento dos temporários será pequeno.

FOLHA - Dá para ter uma estimativa?

PELLIZZARO JÚNIOR - Todo ano demitimos de 10 mil a 12 mil em janeiro, com uma absorção bem maior do que a esperada em 2009. Neste ano, não chegaremos a dobrar [as demissões], mas, sem dúvida, será mais de 40% de alta. Só vai ficar na vaga quem se destacar profundamente pela competência.

FOLHA - As demissões iniciadas na indústria influenciarão dispensas no comércio?

PELLIZZARO JÚNIOR - As demissões de novembro e dezembro da indústria serão sentidas no comércio em fevereiro e março. Quem foi demitido agora ainda tem rescisão, seguro-desemprego. Ele consome menos, mas ainda consome. O problema é se ele não conseguir se recolocar logo.

FOLHA - A perspectiva, na sua opinião, é de piora?

PELLIZZARO JÚNIOR - O pior ainda está por vir entre fevereiro e março. Os números de inadimplência estão aumentando, e a nossa perspectiva é a de que ela irá piorar.

FOLHA - E qual a reação do comércio?

PELLIZZARO JÚNIOR - Apertando o crédito, usando o que tem de capital próprio, diminuindo estoque e reduzindo quadro de funcionários e novos investimentos.

FOLHA - O comércio está trabalhando com estoques altos?

PELLIZZARO JÚNIOR - Normalmente, o comércio trabalha com uma média de 60 a 70 dias de estoque. Atualmente, há 30 dias a mais.

FOLHA - Quais segmentos estão em pior situação?

PELLIZZARO JÚNIOR - Todos os que trabalham com valor agregado maior estão com mais problema. Para quem vende, por exemplo, geladeiras de alto padrão, está mais difícil. Nos supermercados, os produtos para as classes D e E têm um giro maior.

FOLHA - As financeiras não voltaram a emprestar?

PELLIZZARO JÚNIOR - Não. Além de enrijecer na seleção, elas não estão emprestando. Essa é a guerra. O governo facilitou o crédito, mas, na ponta, muito pouco é visto.

FOLHA - Das medidas anunciadas pelo governo, quais são para a manutenção do emprego?

PELLIZZARO JÚNIOR - Até agora não vi nenhuma proposta que garanta isso.

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